53% das crianças são amamentadas no primeiro ano de vida no Brasil

Dados preliminares de pesquisa do Ministério da Saúde mostram evolução dos índices de amamentação nos últimos 34 anos no País.

04.08.2020

Mais da metade (53%) das crianças brasileiras continuam sendo amamentadas no primeiro ano de vida, e mais de 45% das menores de seis meses recebem leite materno exclusivo. É o que mostra a pesquisa Enani (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil) encomendada pelo Ministério da Saúde e lançada nesta terça-feira (4). Os dados apresentam evolução dos índices de amamentação nos últimos 34 anos no Brasil.

A pasta informa que foram avaliadas 14.505 crianças menores de cinco anos entre fevereiro de 2019 e março de 2020. Os dados apontam que entre as crianças menores de seis meses o índice de amamentação exclusiva é de 45,7%. Já nas menores de quatro meses, este índice é de 60%.

O último levantamento do tipo foi realizada em 2006. Estes dados, apresentados pelo MS, são preliminares. O estudo completo está em fase final de consolidação e será divulgado em setembro, segundo o ministério.

Os dados do Enani foram comparados com inquéritos nacionais anteriores, com base em indicadores de amamentação propostos pela OMS, diz a pasta. Antes, este dado era atrelado à PNDS (Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher), realizada nos anos de 2006, 1996 e 1986.

De acordo com este cruzamento de dados, todos os indicadores melhoraram no Brasil. Segundo a pasta, é possível comparar as amostras porque as bases de cálculos são as mesmas e seguem diretrizes de órgãos internacionais.

O último dado de 2006 da PNDS, em comparação com os do Enani de 2020, aponta aumento de 15 vezes na prevalência de aleitamento materno exclusivo entre as crianças menores de 4 meses, e de 8,6 vezes entre crianças menores de 6 meses.

Já na comparação com os últimos 34 anos, houve aumento de quase 13 vezes no índice de amamentação exclusiva em crianças menores de 4 meses e de cerca de 16 vezes entre crianças menores de 6 meses.

Em relação ao indicador de aleitamento materno continuado, ou seja, até 24 meses da criança, o aumento registrado foi de 22,7 vezes no primeiro ano de vida e de 23,5 em menores de dois anos, em comparação com os dados de 1986.

O estudo foi encomendado pelo Ministério da Saúde, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e coordenação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Segundo a pasta, o inquérito nacional de alimentação e nutrição infantil foi aplicado por meio de questionários, além da avaliação antropométrica e da coleta de sangue de crianças menores de cinco anos para a avaliação do estado nutricional e deficiências nutricionais.

O objetivo da segunda fase da pesquisa é especificar outros dados, atualizar os indicadores nacionais referentes ao estado nutricional, consumo alimentar e carências nutricionais infantis; além de subsidiar as políticas públicas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde.

Campanha do ministério visa apoiar amamentação

A campanha publicitária “Apoie a amamentação: proteger o futuro é um papel de todos” também foi lançada nesta terça. A intenção destas ações é marcar o início da SMAM (Semana Mundial do Aleitamento Materno), que ocorre na primeira semana de agosto, em mais de 150 países.

A campanha recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente com leite materno até os primeiros 6 meses de vida – e que crianças sejam amamentadas de forma complementar até os 2 anos de idade ou mais.

O MS ainda reforçou que, durante a pandemia, a amamentação deve ser mantida mesmo em caso de contaminação pelo vírus. A transmissão vertical do vírus não foi comprovada. Especialistas dizem que benefícios da amamentação superam os riscos potenciais de transmissão através do leite materno.

Raphael Câmara, que foi nomeado recentemente como secretário de Atenção Primária à Saúde, afirmou em coletiva de imprensa que o Brasil “está no caminho certo” quando o assunto é o incentivo à amamentação. “Como ginecologista e obstetra esta é uma pauta de toda a minha vida”, disse.

Em sua fala, Câmara citou que a amamentação é capaz de reduzir até 13% a mortalidade por causas evitáveis em crianças menores de 5 anos e, a cada ano que a mulher amamenta, o risco de desenvolver câncer de mama reduz 6%.

Socorro Gross, representante da Opas (Organização Panamericana de Saúde), viculada à OMS (Organização Mundial da Saúde), presente na coletiva de imprensa, disse que amamentar é um ato saudável, mas também complexo.

“Estamos falando de um ato que tem pouco custo, mas que não é simples. Amamentar não é simples. É um ato que envolve dor e muito cansaço. É um ato que requer muito apoio da sociedade.”

Dados de relatório publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018 mostra que apenas 38% dos bebês são alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses na região das Américas e só 32% continuam até os 24 meses.

A especialista também citou a importância de investir em bancos de leite humanos. “Ter um banco de leite faz diferença para um bebê que nasce e não tem a possibilidade de ser amamentado por diversos motivos. Manter esses bancos de leite em todos os cantos do Brasil faz diferença.”

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