“Adoece para você ver”, diz enfermeira demitida após ter covid-19

Brasil registra mais de 10 mil casos suspeitos de covid-19 entre profissionais de Enfermagem

08.05.2020

Uma enfermeira, que prefere não se identificar, foi contaminada pela covid-19 enquanto trabalhava na linha de frente de um hospital público em São Paulo. Ela ficou afastada por quase uma semana, mas ao voltar, foi dispensada da função. No relato abaixo ela conta como sobreviveu e afirma que os profissionais de saúde, principalmente os enfermeiros, não são valorizados no mercado de trabalho. “Eu atuava como enfermeira assistencial em um hospital da capital paulista e dava treinamentos de covid-19. Quando o ‘boom’ dos primeiros casos começou, a minha função era ensinar os demais enfermeiros e técnicos a fazerem a coleta. O ritmo era intenso e tinha semana que fazia até sete coletas todos os dias.

Por mais que nós sejamos treinados para fazer isso, dá um medo muito grande de pegar a doença, já que não sabemos o que vem pela frente. A gente fica muito exposto, quase que o tempo todo, e como eu estava trabalhando diretamente com a covid-19 era ainda mais arriscado. No dia 17 de abril, comecei a sentir alguns sintomas. Eram dor de garganta leve, espirro e comecei a medicação por conta própria. Fiquei uma semana fazendo isso, mas a tosse foi aumentando e, cinco dias depois, comecei a ter disfunção intestinal. No dia 25 de abril, a dor no corpo estava intensa, chegava a vir para o pulmão e o tórax sempre que eu respirava. A fadiga também apareceu e ficou quase impossível seguir uma rotina normal, no entanto, continuava trabalhando.

Eu pensei que podia ser uma gripe forte e até dengue, mas resolvi ir ao médico, já que os sintomas só pioravam. No hospital, fiz um raio-X que identificou a infiltração bilateral no pulmão. O médico pediu uma tomografia de urgência e como dependo do SUS, fiquei cerca de oito horas para fazer o procedimento. Fiz todos os exames e constataram que eu estava sim com covid-19. Para me recuperar, o médico me deu seis dias de atestado. Conversei com a minha chefia sobre o ocorrido e falaram para eu ficar tranquila. O ideal seria que eu ficasse cerca de 14 dias até que eu me recuperasse totalmente, mas como estava no período de experiência e com muito trabalho para fazer, pensei em voltar antes. Os sintomas não passavam e a falta de ar só aumentava. Como moro só com a minha filha, pedi que alguns amigos cuidassem dela e me isolei em casa. Às vezes, no meio da noite, a falta de ar era tão grande que eu pensei várias vezes que ia morrer. Leia a íntegra do relato, publicado pelo Uol.

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