Entrevista: Os grandes desafios da Enfermagem Intercultural

Encontro pioneiro refletiu sobre como o SUS pode atender populações diversas, em meio a seus padrões culturais. Olhar atento à diversidade é essencial para garantir equidade do sistema de saúde, em especial na Atenção Primária

11.10.2022

Enfermagem intercultural direciona o olhar para a equidade e inclusão

De que maneira incluir, no SUS, populações com questões singulares, como os indígenas, quilombolas, imigrantes e LGBTQIA+? A Enfermagem pode contribuir para sua integração? Aconteceu na cidade de Caruaru, em Pernambuco, o primeiro Encontro de Enfermagem Intercultural, em 29 de setembro, com discussões em torno dessas perguntas. A iniciativa também incluiu setores mais invisíveis, como população carcerária e mulheres que trabalham na própria área da enfermagem e chefiam lares.

Um dos princípios SUS, da maneira como foi idealizado, é o de equidade: ao compreender as desparidades do país, o sistema busca tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior. Pensando nisso, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) criou a Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde Intercultural. Trata-se de “assessorar na elaboração de estudos e apresentação de ações, propostas e pareceres relativos às questões relacionadas com profissionais de saúde de comunidades tradicionais pelos grupos identificados (indígenas, quilombolas, ciganos, ribeirinhos e extrativistas), LGBTQIA+ e imigrantes”.

Trata-se de um aprimoramento do conceito dito transversal de saúde pública, reconhecendo, ainda, a integração dos diferentes saberes e culturas, que podem ser usados para fortalecer políticas públicas. “Precisamos subsidiar práticas mais equânimes no serviço de saúde pública dentro da garantia do princípio da equidade, de tratar o diferente de forma diferente dentro de suas necessidades em saúde”, explicou Gabriel Gomes, do Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco, ao Outra Saúde.

O conceito é relativamente novo e pouco chegou ao público, inclusive aquele que é alvo da iniciativa que visa aprimorar a Atenção Primária, a mais utilizada pelo brasileiro e porta de entrada do SUS. O nome do evento – “Interculturalidade, diversidade, equidade e cuidado: ressignificando a práxis da Enfermagem” – demonstra as ambições inovadoras.

Diante do contexto de pandemia que vive o Brasil, com toda sua devastação social e sanitária, vem muito bem a calhar. “A pandemia, claro, evidencia outras questões para além da saúde epidemiológica e percebemos que alguns segmentos dessas populações acabaram se expondo mais, porque o acesso ao SUS é mais generalista e não conseguimos trabalhar a particularidade e a individualidade”, explicou Gomes.

Trata-se, como dito por Gomes, de reduzir as desigualdades e compreender as necessidades de grupos minoritários, pois suas necessidades variam de acordo com o contexto socioeconômico vivido. E isso influi até na possibilidade de acesso ao posto de saúde, que parece trivial mas também varia entre grupos sociais e mesmo regiões e cidades do país.

O desafio de criar uma enfermagem que enriquece a relação do SUS com seus usuários é imenso se considerarmos o atual momento. Pois a política de desmonte e desfinanciamento da saúde pública bate mais forte exatamente nesses grupos abordados pela enfermagem intercultural – desde Saúde Indígena aos remédios usados pelas parcelas mais pobres da população, mais excluídas e precarizadas em seu cotidiano.

“O orçamento impacta diretamente nos serviços prestados à população como todo. No contexto da interculturalidade não seria diferente. Percebemos que no âmbito do SUS precisamos de um olhar mais voltado a esta causa e às populações que se enquadram no perfil, para efetivamente se implantar programas. E precisamos de um orçamento adequado para dar uma assistência mais equânime”, explicou Gomes.

Leia a íntegra da entrevista ao site Outra Saúde

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