Razão de mortalidade materna no Brasil se equipara à de 25 anos atrás

Dados preliminares do Ministério da Saúde analisados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro revelam que óbitos de gestantes em 2021 quase dobraram em relação a 2019, ano anterior à pandemia

14.04.2023

“Em 2021, a razão de mortalidade materna no Brasil voltou aos níveis inaceitáveis de 25 anos atrás”, alerta a coordenadora do Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr), Agatha Rodrigues. Os dados mapeados pelo Observatório, a partir de dados públicos e preliminares do Ministério da Saúde, são contundentes. Em 2021, houve 110 mortes de mulheres a cada 100 mil nascidos vivos – a mesma taxa que em 1998.

A razão de mortalidade materna (RMM) – um dos mais importantes indicadores globais de saúde – é o número de mortes de pessoas por causas ligadas à gestação, parto e puerpério (até 42 dias após o parto) por 100 mil nascidos vivos. Em 2019, a RMM foi de 57,9 mortes e, em 2020, de 71,9. A meta assumida pelo Brasil junto às Nações Unidades é reduzir a RMM 30 mortes por 100 mil nascidos vivos até 2030. A taxa em países desenvolvidos oscila em torno de 10 mortes por 100 mil nascidos vivos.

Para a coordenadora da Comissão Nacional de Saúde da Mulher do Conselho Federal de Enfermagem (CNSM/Cofen), Dannyelle Costa, era esperado um aumento da mortalidade em 2021 em razão da covid, mas a pandemia não justifica a dimensão do retrocesso. “O que observamos não foi resultado apenas da covid-19, mas das interrupções na assistência primária, além do atraso vacinal e injustificável demora em reconhecer as gestantes como grupo de alto risco”, pondera Dannyelle, que destaca a importância da atenção primária.

Enfermagem e a mortalidade materna – O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA/ONU) estima que o investimento em profissionais de Enfermagem obstétrica tem o potencial de salvar 4,3 milhões de vidas no mundo, a cada ano, até 2035. “O profissional enfermeiro, em especial a enfermeira obstétrica, é um dos grandes atores na redução da mortalidade materno-infantil”, reforça Dannyelle. “É por isso que a gente precisa continuar investindo e incentivando a atenção básica e locais de nascimento onde a enfermeira obstétrica tenham protagonismo. A atuação qualificada da enfermeira obstétrica melhora os indicadores de Saúde e a percepção do parto pela pessoa que está sendo cuidada”.

Desigualdades – A pandemia exacerbou também desigualdades regionais. “Historicamente, as regiões Nordeste e Norte têm o pior cenário, identificando a população mais vulnerável do país; a pandemia apenas agravou um problema que não é novo”, afirma a pesquisadora Agatha. Em 2021, o estado brasileiro com a razão de mortalidade materna mais alta foi Roraima: 281,7 mortes por 100 mil nascidos vivos.

 

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