Sem
UTI, municípios pequenos temem falta estrutura para transferências

Casos complexos dependem de traslado para cidades-polo. No Ceará, prefeitos mapeiam fragilidades e, no Amazonas, cobram transporte aéreo.

15.04.2020

Profissionais de saúde ajudam um paciente com sintomas da Covid-19, em Manaus. REUTERS

Num país continental e desigual como o Brasil, o combate à Covid-19 impõe desafios logísticos quando a doença já contabiliza 1.532 mortes e aponta para uma perigosa tendência de interiorização. É por isso que municípios pequenos estão preocupados com o cenário que podem enfrentar nas próximas semanas com a disseminação do coronavírus pelo país. Os casos de Covid-19 ?uma doença cujos cuidados de pacientes graves dependem de uma estrutura hospitalar complexa que esses locais nunca tiveram? já começam a ser registrados. E, embora a ordem continue sendo a de enviar pacientes que necessitem de cuidados intensivos aos hospitais de referência das chamadas cidades polo, as redes regionais de saúde precisam ser reorganizadas tanto para conseguir atender a alta demanda imposta pela pandemia quanto para que as transferências aconteçam de forma segura. O desafio maior é nas regiões onde há um verdadeiro apagão de UTIs ?nas quais vive 14,9% da população que depende unicamente do SUS. Mas a situação é complexa em muitos municípios, nos quais faltam desde UTIs móveis para transportar pacientes mais graves até profissionais especializados para operá-las, como relatado no Ceará. No imenso Amazonas, os prefeitos cobram transporte aéreo disponível para os casos graves, numa doença de evolução rápida.

O Sistema Único Brasileiro é organizado em 451 regiões de saúde, que têm cidades de referência para garantir capilaridade no atendimento da população. É nessas cidades-polo ?geralmente com mais de 70.000 habitantes? que estão concentradas as unidades de terapia intensiva, que exigem um alto investimento para a implantação (com a compra de equipamentos) e para a manutenção (com equipes de intensivistas especializados que incluem médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde), para atender a determinados grupos de municípios. Há um fluxo histórico dos locais para onde os pacientes mais graves das cidades pequenas devem ser encaminhados, caso precisem de cuidados hospitalares mais complexos.

O problema é que essa estrutura atual pode ser insuficiente para a demanda da epidemia do coronavírus e sua distribuição é desigual entre as regiões do país. Um estudo da FGV mostra que 14,9% da população que depende exclusivamente do SUS não contam com nenhum leito de UTI na região (e não apenas na cidade) em que residem. Essas regiões estão principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Segundo o mesmo estudo, em 72% das regiões de saúde, o número de leitos de UTI pelo SUS é inferior ao considerado adequado em um ano típico, sem a influência da Covid-19. Há um padrão similar com relação a ventiladores e respiradores nesses locais, equipamentos cruciais no atendimento dos pacientes infectados com o novo coronavírus.

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