2º Seminário Intercultural ressalta força da Enfermagem no cuidado aos vulneráveis

Programação encerrada nesta terça-feira (27/6) contou com palestras, mesas redondas, relatos de experiências e homenagens

27.06.2023

Programação do último dia ressaltou a importância da atuação de uma Enfermagem transcultural e pautada nos princípios éticos

As populações quilombolas e extrativistas são vítimas históricas da estrutura fundiária brasileira que reforça a desigualdade social e pressiona esses grupos, resultando em constantes episódios de violência relacionados aos conflitos pela propriedade da terra. A conjuntura social a que estão submetidas cria particularidades que precisam ser compreendidas pela Enfermagem para uma assistência qualificada. O último dia do 2º Seminário Nacional de Enfermagem em Saúde Intercultural do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) trouxe luz a essas especificidades, ressaltando a importância de um cuidado transcultural, pautado nos princípios éticos e que reconhece os diferentes saberes e tradições.

Na parte da manhã, os participantes acompanharam a palestra “Enfermagem na assistência aos povos em vulnerabilidade: suas particularidades na saúde e no meio ambiente”, mediada por Wagner da Silva, membro da Conenfsi. Marcuce Santos, membro da Câmara Técnica de Atenção Básica (CTAB) do Cofen, apresentou a realidade enfrentada pelos povos quilombolas e originários em seu estado, Rondônia. “As populações vulnerabilizadas estão sujeitas a um maior risco de problemas de saúde. Atualmente, o território rondoniense abriga oito comunidades remanescentes de quilombos e em muitas delas, não encontramos mais do que um ou dois profissionais de Enfermagem”, afirmou.

Ana Trettel, coordenadora do primeiro curso de Enfermagem Intercultural Indígena do país, comandou palestra

Ana Cláudia Trettel, coordenadora do primeiro curso de Enfermagem Intercultural Indígena do país, na Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat), ressaltou o papel da Enfermagem no atendimento às populações vulnerabilizadas. “Não basta ficarmos apenas no discurso. É fundamental que a Enfermagem seja integrada e operacionalizada, agindo de forma crítica e consciente, pois o cuidar implica em compreender a essência humana, atendendo as solicitações daquilo que é plural,”, frisou.

Relato de experiência – A primeira enfermeira no Brasil formada como especialista em Saúde povo do campo , Islândia Batista, apresentou um relato de experiência sobre construção de políticas de Enfermagem na saúde do campo, durante sua atuação em comunidades rurais no interior de Pernambuco. “Precisamos nos aproximar dos nossos pacientes, pois muitas vezes eles não buscam os serviços de saúde”, advertiu a profissional.

Roseli Maria Lima recebeu homenagem em memória de sua mãe

Islândia também abordou a importância da saúde primária ofertada a esses grupos. “A Enfermagem precisa compreender quais determinantes influenciam a saúde de indivíduos e de seus grupos. Na perspectiva da saúde do campo, a integralidade e o cuidado precisam alcançar uma lógica de adequação do serviço prestado às necessidades e problemas da população.”

Reconhecimento – O último dia de seminário também reservou em sua programação um momento para homenagear em memória a Técnica de enfermagem Maria do Carmo por meio de sua filha, a agente de saúde Roseli Maria Lima, que no último mês protagonizou uma reportagem no programa Fantástico, na qual assistiu as imagens da sua mãe exercendo a profissão em 1978. “Não há nada mais belo do que o cuidar”, garantiu Roseli emocionada ao receber o reconhecimento dos membros da Conenfsi.

Gabriel Gomes ressaltou em palestra a ética enquanto instrumento fundamental para uma saúde qualificada

Ética na saúde – O conselheiro do Coren-PE Gabriel Gomes e a integrante da Conenfsi Waldenira Fonseca comandaram durante a tarde a palestra “Experiências e desafios na construção de políticas de Enfermagem e as necessidades para a Saúde do povo da terra”.

“Como garantir assistência à luz da ética”? questionou Gabriel, que atualmente coordena a Câmara Técnica de Enfermagem Intercultural e povos em sitiacao de vulnerabilidade do regional. “Nossa assistência precisa estar embasada em todos os preceitos éticos, que se concretizam em qualquer espaço que o profissional de Enfermagem estiver”, frisou.

A Enfermagem enquanto ciência precisa refletir como sair de um campo em que as ações éticas são pautadas muitas vezes pela conveniência para que sejam trilhadas por um caminho que tem como base o exemplo. Não podemos mais olhar a ética sob uma ótica punitivista”, disse.

Burnout e a vulnerabilidade na Enfermagem – Encerrando a vasta programação do 2º Seminário Nacional de Enfermagem em Saúde Intercultural, a enfermeira membro da Comissão Nacional de Saúde Mental do Cofen, Socorro Mota, apresentou a palestra “Profissionais de Enfermagem vulneráveis à Síndrome de Burnout, que contou com mediação de Jonas Meira, membro da Conenfsi.

Burnout na Enfermagem foi assunto da última palestra do evento, comandada por Socorro Mota

“Sem Enfermagem não há saúde e esse papel vital que a categoria exerce na garantia da assistência à população é um dos grandes fatores para o adoecimento mental da profissão”, ressaltou Socorro, que destacou as jornadas de trabalho excessivas, os baixos salários e a convivência com a morte como alguns dos fatores desencadeantes.

O Burnout é resultado do estressante intenso e crônico mal gerenciado no local de trabalhado, causando um esgotamento profissional. Dados apresentados pela enfermeira mostram que até 70% da Enfermagem já foi acometida com a doença.

Maria do Socorro citou o projeto Enfermagem Solidária como grande ação do Cofen no combate ao desgaste mental dos profissionais. A iniciativa é voltada à oferta de apoio psicológico aos profissionais durante momentos críticos. O grupo atuou durante a pandemia e nas enchentes que acometeram os estados da Bahia e Minas Gerais. Em dois anos, foram quase oito mil atendimentos.

As gravações dos dois dias de seminário estão disponíveis na multiplataforma CofenPlay e podem ser acessadas clicando aqui.

 

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