Estudo mostra queda de mortes por desnutrição e alta por obesidade no Brasil

Levantamento da Escola de Enfermagem da UFMG mostra que, em 30 anos, consumo de alimentos ultraprocessados e obesidade cresceram como fator de morte enquanto privação de alimentos diminuiu

10.06.2024

A Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realizou um estudo que descobriu a inversão de uma tendência nas causas de óbito relacionadas à alimentação no Brasil. De 1990 a 2019, a pesquisa descobriu que o aumento da obesidade aparece mais relacionado a mortes que a desnutrição no país.

Coordenado pela professora Deborah Carvalho Malta, do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da UFMG, a pesquisa cruzou dados de dois fatores: deficiências nutricionais e índice de massa corporal (IMC) elevado nos 27 estados do Brasil. A pesquisa usou as informações do estudo “Carga global de doenças com métricas: número absoluto de mortes, taxa de mortalidade padronizada e anos de vida ajustados por incapacidade”. Além disso, foi percebida a correlação da variação percentual das taxas de mortalidade com o índice sociodemográfico (SDI).

“Durante muito tempo, a desnutrição e o IMC foram vistos como problemas de saúde pública distintos que afetavam grupos populacionais diferentes. No entanto, a ocorrência conjunta desses dois tipos de má nutrição está aumentando. Esse aparente paradoxo é resultado de profundas mudanças sociais e desigualdades. Tanto a desnutrição quanto o IMC elevado tendem a prevalecer em populações de baixo nível socioeconômico”, esclareceu Deborah.

Os resultados revelaram redução no número de mortes (75%), na taxa de mortalidade (75,1%) e nos anos de vida ajustados por incapacidade (72%) atribuível a deficiências nutricionais em todas as regiões do Brasil. As principais vítimas são crianças com menos de cinco anos e a população acima de 60 anos.

O trabalho ainda ressaltou a distinção entre quantidade de óbitos absoluta e a taxa de mortalidade. Esse índice é resultado do cálculo do número de mortes dividido pela população. É um indicador mais preciso, segundo a professora Deborah Malta, porque leva em consideração o aumento da população.  A queda nas taxas de mortalidade indica que o número de óbitos subiu menos do que o crescimento populacional.

Outro número considerado na pesquisa – anos de vida ajustados por incapacidade – diz respeito ao tempo que a pessoa perde em sua vida produtiva em razão, por exemplo, de doenças e internações. No caso do estudo da Escola de Enfermagem da UFMG, a incapacidade é associada aos efeitos da desnutrição ou da obesidade.

Quanto ao IMC elevado, constatou-se aumento no número absoluto de óbitos (139,6%). No entanto, a taxa de mortalidade (9,7%) e os anos de vida ajustados por incapacidade (6,4%) diminuíram em todas as regiões, exceto no Norte e Nordeste do país, que registraram aumento. Em Minas Gerais, houve queda de 21,1% nas taxas de mortalidade devido ao IMC elevado, porém, o número de mortos saltou de 7.763, em 1990, para 16.661 pessoas, em 2019 (crescimento de 114,6%).

Alimentos ultraprocessados – O estudo constatou, além disso, que a tendência geral da dupla carga de má nutrição (subnutrição e IMC elevado) pode ser atribuída principalmente a transições rápidas nas dietas em todo o mundo. “Alimentos ultraprocessados possibilitam uma vida útil mais longa e melhor palatabilidade, porém têm alto valor calórico e são pobres em nutrientes. Devido ao seu baixo custo, tornaram-se altamente consumidos, especialmente pelas populações pobres. Além disso, houve diminuição do consumo de alimentos frescos, incluindo frutas e vegetais, que normalmente têm baixos teores de caloria, mas são ricos em micronutrientes e em fibras. Novos hábitos resultaram em aumento na prevalência da obesidade, fenômeno que ocorre tanto no Brasil quanto no resto do mundo”, definiu.

A desnutrição surge da insuficiência alimentar ou da deficiência de absorção de um ou mais nutrientes, como iodo, vitamina A e ferro. Essas deficiências estão relacionadas ao aumento da morbidade e mortalidade, constituindo a quinta causa de morte e deficiência em crianças menores de cinco anos. Em termos absolutos, o número de óbitos no Brasil caiu de 142.367, em 1990, para 35.660, em 2019.

Por outro lado, o sobrepeso e a obesidade, caracterizados por acúmulo excessivo de gordura no corpo, resulta de complexo processo adaptativo do sistema no balanço energético, em que características biológicas, padrões de atividade física e de consumo alimentar, aspectos psicológicos, ambiente físico e alimentar e fatores sociais e influências comerciais moldam comportamentos e práticas de estilo de vida. No Brasil, os óbitos por excesso de peso e obesidade aumentaram de 74.266, em 1990, para 177.940, em 2019.

A obesidade e o sobrepeso têm crescido e já alcançam 26% e 60% da população adulta brasileira, respectivamente. Estimativas globais indicam que cerca de 2,3 bilhões de crianças e adultos têm excesso de peso, e mais de 150 milhões de crianças sofrem de desnutrição.

O Guia Alimentar para a População Brasileira aborda os princípios e as recomendações de uma alimentação adequada e saudável para a população brasileira. Instrumento de apoio às ações de educação alimentar e nutricional no SUS e também em outros setores, o guia enfatiza a importância de uma alimentação equilibrada, com produtos acessíveis, naturais ou minimamente processados.

Preços em alta – Outro estudo da Escola de Enfermagem da UFMG, em parceria com a Escola de Medicina da UFMG e colaboração da Universidade Federal de São Paulo (USP) e do Instituto de Defesa do Consumidor constatou o aumento progressivo do custo dos alimentos naturais.

Em 2018, os preços relativos dos alimentos in natura e pouco processados era aproximadamente de R$ 15,3 por quilo. A projeção para 2025 é de um aumento para R$ 22,5. No mesmo período, houve redução nos preços relativos dos alimentos processados de R$ 16,6 por quilo em 2018 para R$ 11,33 em 2025.

Fonte: Ascom Cofen, com informações da UFMA e rádio CBN

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