Enfermeira forense identifica vítima de crime hediondo durante tragédia climática no RS

Paciente chegou para tomar uma vacina antitetânica, mas profissional percebeu indícios de violência sexual e executou protocolo definido pelo Cofen

13.07.2024

Já passava das 15 horas quando uma mulher entrou na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em uma cidade no interior do Rio Grande do Sul. No auge da tragédia climática que devastou cidades inteiras, a paciente chegou aviltada, com um corte no braço, outro na orelha e uma lesão na cabeça. Ela fez as suturas, foi medicada e encaminhada para o Hospital de Campanha (HCamp), para tomar uma vacina antitetânica.

Durante o processo de acolhimento, a enfermeira forense Zenaide Cavalcanti, que estava atuando como generalista na Força Nacional do SUS, achou a situação estranha e começou a investigar. Com base nas evidências, a profissional dialogou com a paciente para estabelecer uma relação de confiança, até que ela revelou um crime: “fui estuprada e conheço o meu agressor”.

A enfermeira forense Zenaide Cavalcanti

“Diante do caso, executei o protocolo definido pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), conforme previsto na Resolução 556/17. Acolhi a vítima, fiz o atendimento especializado, registrei as evidências e acionei o serviço social. Todo o procedimento, que é absolutamente sigiloso e confidencial, durou aproximadamente duas horas. Ela aceitou os exames e condutas prescritas. Posteriormente, foi reencaminhada ao médico”, conta Zenaide Cavalcanti.

Segundo o enfermeiro forense e conselheiro federal Antônio Coutinho, essa é a primeira vez que uma enfermeira forense elucida um crime sexual durante um desastre em massa no Brasil. “Não temos conhecimento de nenhum precedente nesse sentido, trata-se de uma evidência inédita. O que seria uma simples vacinação, se converteu em um caso de justiça. Com base nas informações colhidas pela Enfermagem, a vítima teve o atendimento adequado e poderá buscar justiça contra o seu agressor”, considera Coutinho, que é referência nacional em ciências forenses.

A Força Nacional do SUS foi idealizada pela enfermeira Conceição Mendonça. Em grandes catástrofes, como a que atingiu o Rio Grande do Sul, o grupo já identificou que aumenta a incidência de crimes contra a vida e a dignidade humana. Além de perder casa, carro, animais de estimação e familiares, pessoas vulneráveis são expostas a violações como lesão corporal, roubo e estupro. Portanto, é necessário discutir seriamente a incorporação efetiva da Enfermagem Forense em acontecimentos dessa magnitude.

Em pé: a médica Veyda Ferreira, o técnico de Enfermagem Paulo Rogério, a médica Ana Angélica Dantas, a enfermeira Jacyele Silva Costa e o técnico de Enfermagem Alex Fernando Marçal. Agachados: a enfermeira Zenaide Cavalcanti, o técnico Lucas Arthur Gomes, a enfermeira Manuella Silva e o enfermeiro Claude de Andrade

“Eu fui preparada para identificar casos de violência, pois já sabemos que ocorrem nessas situações. Portanto, não tenho palavras para descrever a emoção de acolher essa paciente em seu sofrimento e ajudá-la diante de uma situação tão difícil. Atuar pela Enfermagem já é belíssimo, pela Forense é mais gratificante ainda”, conta a enfermeira Zenaide.

A Enfermagem Forense é um campo muito vasto. O profissional especializado tem competência para identificar crimes, acolher vítimas de violência, atuar no sistema prisional, na assistência psiquiátrica, realizar perícias, assistência técnica, coleta e preservação de vestígios e provas, investigações pós-morte, desastres em massa e missões humanitárias. Por todas as soluções que representa para quem mais precisa, a prática precisa ser estabelecida no Brasil.

Fonte: Laércio Tomaz/Ascom Cofen

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