Estudo da Fiocruz revela como dados de mobilidade podem auxiliar a prevenir pandemias

Estudo traz evidências inovadoras que podem aumentar significativamente a precisão da vigilância epidemiológica, contribuindo para evitar futuras emergências de saúde pública

26.07.2024

A pesquisa utilizou um modelo computacional baseado em dados de transporte rodoviário, hidroviário e aéreo (Foto: Agência Brasil)

A rápida disseminação de novos patógenos, como observado nas pandemias da Covid-19 e H1N1, é facilitada pelas milhares de conexões entre cidades, estados e países. Um novo estudo do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), publicado na The Lancet Digital Health, traz evidências inovadoras que podem aumentar significativamente a precisão da vigilância epidemiológica, contribuindo para evitar futuras emergências de saúde pública.

Utilizando um modelo computacional baseado em dados de transporte rodoviário, hidroviário e aéreo, a pesquisa avaliou a mobilidade humana no Brasil. Juliane Oliveira, pesquisadora associada ao Cidacs/Fiocruz Bahia e líder da pesquisa, questiona: “Quão rápidos seríamos para detectar um novo patógeno?” O resultado mais importante do estudo, segundo ela, foi a classificação do padrão da cobertura de mobilidade humana das cidades brasileiras. A pesquisa catalogou as conexões entre os 5.570 municípios brasileiros, classificando-os entre o padrão de cobertura mínima e máxima de mobilidade.

Liderado pelo Cidacs/Fiocruz Bahia e pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudo faz parte da iniciativa do Sistema de Alerta Antecipado de Surtos com Potencial Pandêmico (ÆSOP). Este projeto, realizado em parceria direta com o Ministério da Saúde e com financiamento da Fundação Rockefeller, envolve diversas instituições nacionais e internacionais.

A pesquisa é pioneira ao utilizar dados de mobilidade humana em um país de dimensões continentais como o Brasil para identificar os locais mais estratégicos para redes de coleta de amostras e análise genética de patógenos respiratórios. No Brasil, essa responsabilidade cabe à Rede Sentinela, uma estratégia coordenada pelo Ministério da Saúde para monitorar e entender a propagação de patógenos e suas variantes. Juliane Oliveira destaca que, ao incorporar um padrão de mobilidade humana, será possível antecipar a detecção de patógenos, com o intuito de frear sua disseminação antes que atinja o potencial pandêmico.

Os profissionais de Enfermagem desempenham um papel crucial na implementação das medidas de vigilância epidemiológica e no combate à disseminação de patógenos. Sua atuação na Rede Sentinela e em outras frentes de saúde pública é essencial para identificar rapidamente novos surtos e garantir que as ações preventivas sejam eficazes. A pesquisa evidencia a importância de uma distribuição estratégica das unidades de coleta, o que permitirá que profissionais de Enfermagem e demais profissionais de saúde atuem de forma ainda mais eficiente na detecção precoce de doenças, contribuindo diretamente para a proteção da saúde da população.

O mapa ilustra as comparações entre os locais atuais (em amarelo) das redes sentinela e a redistribuição sugerida. Os pontos em vermelho representam locais existentes de coleta de amostras que convergem com os locais estratégicos, conforme a classificação da cobertura de mobilidade humana. Em azul, estão as sugestões de redistribuição. (Imagem: Fiocruz).

Atualmente, a Rede Sentinela para vigilância de síndrome gripal possui 310 unidades de coleta em 199 municípios, cobrindo cerca de 52% da mobilidade do país. O estudo demonstrou que uma redistribuição estratégica dessas unidades aumentará a cobertura para 70%, sem aumentar o número total de pontos, priorizando cidades que contribuirão para a detecção antecipada da doença em sua fase inicial de disseminação. Segundo Juliane, “Redistribuindo os municípios, encontramos locais melhores para detecção precoce”, o que indica um ganho de aproximadamente 18% na cobertura nacional.

Ela também aponta que é possível conseguir resultados ainda mais precisos do que os apresentados até agora. As bases de dados de transportes rodoviários e hidroviários costumam ser menos atualizadas em comparação com os dados aéreos, com as últimas atualizações datando de 2016. “Se tivermos dados ainda mais recentes, os resultados podem fornecer suporte estratégico e mais preciso”, explica.

Essa redistribuição estratégica pode ter um impacto significativo na vida das pessoas e dos profissionais de saúde. Com a detecção mais rápida de antigos ou novos patógenos, os gestores de saúde pública poderão tomar medidas preventivas mais eficazes, o que pode reduzir a propagação de doenças e potencialmente salvar inúmeras vidas. Essa antecipação pode auxiliar na alocação de recursos e na propagação de informações mais rapidamente, permitindo uma resposta mais ágil e eficaz a surtos emergentes.

Juliane observa que as cidades com maior população não são necessariamente as melhores para detecção antecipada, pois patógenos tendem a se espalhar pelas rotas de conexão antes de atingir grandes centros populacionais. “Devemos quebrar a ideia de que as redes de coleta devem estar apenas nas cidades mais populosas, pois um novo patógeno pode surgir em qualquer local do país, até mesmo em uma cidade isolada, percorrendo uma rota antes de chegar a essas áreas populosas, onde haverá uma explosão de casos”, conclui.

Fonte: Fiocruz (texto adaptado)

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