Vacinação busca conter retorno da poliomielite a Gaza

É o primeiro caso da doença em 25 anos na região. Relatório da HRW aponta detenção e tortura de trabalhadores da Saúde

05.09.2024

Família fizeram fila para vacinar suas crianças contra pólio na primeira fase da campanha (Foto: UNRWA)

A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) anunciou hoje, 5/9, a 2ª fase de vacinação para conter o retorno da poliomielite na Faixa de Gaza. Quase 190 mil crianças palestinas foram vacinadas nos três dias da primeira fase, e a expectativa é vacinar 340 mil nesta etapa, com foco na região sul. Mais de 1.000 profissionais de saúde vão atuar na cidade de Khan Younis, segundo a UNRWA. O Hamas e Israel acordaram cessar-fogo de oito horas diárias para permitir a vacinação.

A iniciativa é uma resposta ao ressurgimento da doença, em fase de erradicação global, em meio à guerra entre o Hamas e Israel, que levou ao colapso do sistema de Saúde de Gaza. Um bebê de 10 meses foi o primeiro paciente com pólio nos últimos 25 anos na região. 

O comissário geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, reiterou pedidos por um cessar-fogo permanente. Na semana passada, Lazzarini publicou um apelo desesperado: A história julgará a todos nós. “As gerações vindouras saberão que nós assistimos esta tragédia se descortinar nas mídias sociais e canais de notícias. Não poderemos dizer que não sabíamos. A história vai perguntar porque o mundo não teve a coragem de agir de forma decisiva e parar esse inferno na Terra”, afirmou.

O promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, pediu mandados de prisão contra lideres do governo de Israel e do Hamas por crimes de Guerra. O TPI pode responsabilizar o primeiro-ministro israelense, Benjamín Netanyahu, e o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, os líderes do Hamas Yahya Sinwar e Ismail Hanyieh, e o comandante do Brigadas Al-Qassam (braço militar do Hamas), Mohammed Diab Ibrahim Al-Masri.

As tensões aumentaram, nesta semana, com a divulgação da morte de israelenses mantidos reféns pelo Hamas.

Ataque a Profissionais de Saúde

Prisioneiros detidos na base militar israelense de Sde Teiman (foto: Human Rights Watch)

O colapso sanitário de Gaza está associado ao bombardeio de hospitais, interrupções na distribuição de medicamentos e ajuda humanitária e abuso contra profissionais de Saúde. Relatório da Human Rights Watch (HRW) documenta maus tratos a médicos, enfermeiros e paramédicos sob custódia das forças armadas de Israel. Prisioneiros libertados relatam humilhações, espancamentos, posições de stress forçadas, algemas e vendas prolongadas e recusa de cuidados médicos.

“Os maus tratos do governo israelita aos profissionais de saúde palestinianos continuaram nas sombras e precisam de parar imediatamente”, disse Balkees Jarrah, diretor interino para o Médio Oriente da Human Rights Watch. “A tortura e outros maus-tratos infligidos a médicos, enfermeiros e paramédicos devem ser exaustivamente investigados e devidamente punidos, inclusive pelo Tribunal Penal Internacional (TPI)”.  

Desde o início do conflito, o Conselho Internacional de Enfermagem (ICN) emitiu diversas declarações contra o ataques a enfermeiros e instalações de Saúde em Gaza. Israel acusa o Hamas de usar hospitais como base militar. 

Corpos sob os escombros

Mais de 40 mil civis palestinos foram mortos na guerra, iniciada após ataque do Hamas a civis israelenses, em 7 de outubro de 2023, que deixou mais de mil mortos e 253 reféns. Segundo o Ministério da Saúde Palestino, os números “não refletem necessariamente todas as vítimas devido ao fato de que muitas vítimas ainda estão desaparecidas sob os escombros”. Pelo menos metade das construções em Gaza foram destruídas ou danificadas por bombardeios. A destruição da infraestrutura torna praticamente impossível a identificação de todos os corpos. 

As mortes indiretas — associadas a fatores como falta de assistência de Saúde, interrupção do fluxo de alimentos e remédios e aos cortes no fornecimento de água e energia — podem elevar o número de vítimas da guerra a mais quase 200 mil. A revista Lancet publicou, em julho, carta de três acadêmicos estimando que 186 mil ou mais mortes poderiam ser atribuídas ao atual conflito em Gaza, se contabilizadas as causas indiretas.

 

 
 

Fonte: Ascom/Cofen, com informações da UNRWA. TPI e HRW

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