Enfermagem debate assistência a populações indígena, negra e quilombola

Mesa redonda, com especialistas e liderança quilombola, aconteceu durante o 20º CBCENF

10.11.2017

O Cuidado à Saúde de Populações Vulneráveis e Tradicionais: índios, quilombolas e negros foi tema de mesa redonda na tarde desta quinta-feira (9), no 20º CBCENF. Os participantes compartilharam experiências na assistência em saúde e discutiram os desafios, avanços e perspectivas nesse âmbito.

A mesa foi coordenada por Raphael Amorim, da Universidade Federal de Roraima, e contou com a participação de Júnior Martins, da Universidade do Estado do Amazonas, da enfermeira Louise Mara da Silva, coordenadora executiva de população negra da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, e da pedagoga Fátima Barros, líder do Quilombo Ilha São Vicente, localizado na região do Bico do Papagaio, no município de Araguatins-TO.

Desafios – Júnior Martins apresentou um levantamento histórico da saúde indígena, partindo do século XVIII – marcado pelo contato dos índios com os povos europeus e a disseminação de doenças – passando pela criação dos primeiros serviços de unidades sanitárias e da FUNAI até o cenário atual, onde apresentou um pouco das suas experiências de sete anos assistindo povos indígenas na região amazônica.

De acordo com o enfermeiro, são muitos os desafios enfrentados como a barreira cultural, o acesso geográfico e a própria falta de insumos. “Outro desafio é quanto a abordagem a esses pacientes. Lidamos com uma população pluriétnica e hoje em dia a assistência é muito reproduzida e não contempla as especificidades totalmente. A maneira como se aborda uma etnia deve ser diferente da outra. Mas não é o que acontece e isso prejudica a cobertura”, destacou.

Louise Mara Silva apresenta sua palestra sobre a influência do racismo estrutural e institucional nos serviços prestados aos indígenas e negros.

Invisibilidade – A enfermeira Louise Mara Santos da Silva apresentou a influência do racismo estrutural e institucional nos serviços prestados aos indígenas e negros. “Dizem que o SUS é para todos os cidadãos. Mas, se formos nos debruçar sobre os dados de morbimortalidade de população negra ou indígena, vemos que o SUS não é para todos. A instituição não é capaz de oferecer serviço de qualidade para todos. Um determinado grupo étnico continua adoecendo e morrendo mais. Abrimos acesso, mas não a mesma qualidade”, declarou.

A palestrante destacou ainda que as questões de raça refletem também sobre a classe profissional da enfermagem. De acordo com a Pesquisa Perfil da Enfermagem (Cofen/Fiocruz) de 2013, os auxiliares e técnicos de enfermagem são na maioria pretos ou pardos (57,4%). Já os enfermeiros, os brancos são maioria o que pode indicar o acesso à educação de nível superior mais dificultado aos negros.

Já Fátima Barros compartilhou um pouco da realidade da assistência em saúde da sua comunidade quilombola. “Nós não temos posto de saúde e contamos só com uma agente de saúde. Ela visita as famílias, relata os casos e marcamos o dia da consulta. Boa parte de nós se desloca de canoa para a sede do município para consultar e quando saímos, na maioria das vezes, as farmácias não tem remédios. Aí precisamos comprar ou nos deslocarmos até o Maranhão para ter acesso ao medicamento”, relatou.

A líder quilombola ressaltou ainda a ausência de espaços de representatividade do povo negro, inclusive nas políticas de saúde vigentes. “Nós queremos respeito por igual, mas queremos a nossa singularidade sendo levada em conta também. Sem isso é impossível estabelecer uma política de saúde respeitosa a todos os povos. Quando o profissional não conhece nossas histórias, ele centraliza uma prática que causa um adoecimento maior. É preciso respeitar os saberes de cada povo”, afirmou.

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