Coren-MT faz ação em homenagem a enfermeiras negras

O mês da Consciência Negra será lembrado através da ação “Nem ladies, nem nurses: mulheres negras na Enfermagem”, que divulgará informações sobre a marginalização da mulher negra na história da Enfermagem

06.11.2018

Como forma de homenagear o mês da Consciência Negra, cuja data principal é comemorada no dia 20 de novembro, o Conselho Regional do Mato Grosso (Coren-MT) realiza a ação “Nem ladies, nem nurses: mulheres negras na Enfermagem”, pela qual vai divulgar durante este período informações sobre a marginalização da mulher negra na história desta categoria profissional, com o objetivo de conscientizar profissionais e colaboradores.

Um banner e cartazes expostos na sede, em Cuiabá, trazem a biografia de algumas das enfermeiras negras de destaque e dados sobre a presença dos profissionais negros na Enfermagem, com base no levantamento “Perfil da Enfermagem no Brasil”, realizado pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e pela Fiocruz, em 2013.

Conselheira regional, enfermeira Lígia Arfeli, e o presidente do Coren-MT, Antônio César Ribeiro

Doze documentários sobre a temática racial estarão sendo exibidos na recepção da sede do Coren-MT para os profissionais, entre eles o clássico “A negação do Brasil”, do cineasta Joel Zito Araújo, que trata da discriminação racial nas telenovelas. As biografias também serão divulgadas nas redes sociais e no site.

“Esta é uma maneira de contar o outro lado da história, que é desvalorizado e desconhecido, e de resgatar o sentido da profissão, o cuidado, que foi exercido no Brasil primeiro pelos africanos e afrodescendentes, principalmente as mulheres, e depois, no mercado de trabalho, como maioria entre os profissionais em uma categoria extremamente explorada pelo capital”, comentou o presidente do Coren-MT, Antônio César Ribeiro.

Um pouco de história – A profissionalização da Enfermagem no Brasil começou nos primeiros anos da República, período em que os intelectuais do país defendiam as teorias racistas difundidas por pensadores europeus, que ficaram conhecidas como “racismo científico” por buscar as bases científicas da suposta inferioridade dos negros e indígenas. Baseavam-se na crença em diferentes raças humanas, que estariam em diferentes graus de desenvolvimento moral e intelectual, estando negros e indígenas em grau inferior ao dos brancos.

Características como a tendência à vadiagem, a libido exagerada, a indolência etc. eram consideradas atributos “naturais” dos negros e indígenas e eles eram tidos como “a parte gangrenada da sociedade”. A mistura de raças era vista como causa de degeneração.

Nos anos 1920, a Reforma Sanitária, que reorganizou as políticas públicas de saúde no país, foi um dos mecanismos de disseminação desta ideologia. Neste contexto, o sistema de organização da formação de enfermagem, o Sistema Nightingale, importado da Europa e dos Estados Unidos, esteve a serviço do “branqueamento”. Adotado no Brasil pela Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, e posteriormente proposto pelo Decreto 20.109/31, estabelecia estes e outros critérios, com base nos quais as candidatas negras eram barradas nos cursos de formação por serem inadequadas ao padrão. Ignorou o pioneirismo da população negra na área dos cuidados de Enfermagem e marginalizou saberes tradicionais de cuidadores como as amas de leite, as babás, as parteiras, benzedeiras etc.., contribuindo para fixar no imaginário a imagem da enfermeira de pele clara, traços delicados e comportamento afável.

Enfermeira Leonice de Souza Solano prestigiando a ação “Nem ladies, nem nurses: mulheres negras na Enfermagem”

Poucos registros – Há poucos registros históricos dos modelos assistenciais anteriores a este ou sobre a participação das mulheres negras na formação da enfermagem. Mas elas foram as primeiras “enfermeiras”, desde o período da escravização, atuando como protetoras dos laços familiares, resguardando as manifestações culturais e, ao longo da história, conquistando importantes espaços de visibilidade profissional, que foram ignorados pela história.

Um dos exemplos é da década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, período em que ocorreu a Revolução Constitucionalista, quando as “enfermeiras” negras atuaram no batalhão da Legião Negra, ligada à Frente Negra Brasileira, como exemplos da arte do cuidado e, ao mesmo, questionando a imagem da “enfermeira padrão”.

A partir dos anos 1940, também na Enfermagem cresceu a participação das mulheres no mercado de trabalho e nas universidades e houve expansão das escolas de formação, com a mudança do modelo de assistência à saúde. Ao longo dos anos, a atuação de instituições de referência, como a Escola de Enfermagem de São Paulo, contribuiu para a formação da ideia do “padrão branco” de comportamento e aparência. Tal realidade também teve relação o momento histórico, em que o país buscava se modernizar e urbanizar com base nos modelos europeus e apostava no branqueamento gradual da população.

Racismo se reinventa dia a dia – De lá para cá, o racismo vem se reinventando no dia-a-dia, como se pode observar pela manutenção das desigualdades econômicas e sociais entre negros e brancos. Em Mato Grosso (onde 85% dos profissionais são mulheres e 67% são negros) e em todo o mundo, enfermeiras negras têm enfrentado esta realidade e dado exemplo de coragem e ousadia.

Compartilhe

Outros Artigos

Receba nossas novidades! Cadastre-se.


Fale Conosco

 

Conselho Federal de Enfermagem

SCLN Qd. 304, Lote 09, Bl. E, Asa Norte, Brasília – DF

61 3329-5800 | FAX 61 3329-5801


Horário de atendimento ao público

De segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h

Contato dos Regionais