Jornal Nacional: MP pede inquérito policial sobre agressão a enfermeiros e jornalistas

Um dos agressores trabalhava para o Ministério da Mulher e dos Direitos Humanos.. Um dos agressores trabalhava para o Ministério da Mulher e dos Direitos Humanos..

05.05.2020

Procuradoria-geral do Cofen representou contra agressores nesta terça-feira (5/5)

O Ministério Público do Distrito Federal pediu à Polícia Civil a abertura de investigação para apurar agressões a enfermeiros e jornalistas durante manifestações em Brasília. Um dos agressores trabalhava para o Ministério da Mulher e dos Direitos Humanos.

O protesto foi na sexta-feira passada (1º). Na Praça dos Três Poderes, enfermeiros fizeram um ato por melhores condições de trabalho e pela manutenção do isolamento social. Um grupo de apoiadores de Bolsonaro se aproximou e ofendeu os profissionais de saúde.

“E vocês amanhã vão pagar por tudo o que vocês estão fazendo com a nação, seus covardes. Se apoiando… Vocês consomem o nosso fruto do suor, nós construímos essa nação. O dia que os empresários pararem de trabalhar nessa terra, vocês não receberão”, ouve-se.

Em outro momento, uma mulher chega bem perto deles, sem máscara, e faz mais agressões verbais aos enfermeiros: “Vocês querem uma passagem pra Venezuela e pra Cuba? Eu sinto o cheiro da sua pessoa que não toma banho direito. Esse cheiro que não passa um perfume. A gente entende quem é você.”

A mulher foi identificada. É Marluce Gomes, empresária, 45 anos. Depois de aparecer nas imagens, Marluce saiu das redes sociais. O outro agressor é Renan da Silva Senna, que até esta terça-feira (5) era funcionário terceirizado do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Um terceiro agressor identificado é Gustavo Gaia Machado de Araujo.

Dois dias depois, no domingo (3), houve mais agressões, desta vez a jornalistas, na manifestação inconstitucional e antidemocrática contra o Supremo Tribunal Federal, o Congresso, e o ex-ministro Sergio Moro. Apoiadores de Bolsonaro hostilizaram repórteres e agrediram uma equipe do jornal “O Estado de São Paulo”.

No boletim de ocorrência, o fotógrafo Dida Sampaio afirmou que foi hostilizado por pelo menos três homens que aparecem nesta foto feita por ele mesmo. Nesta segunda (4), por equívoco, não exibimos os rostos dos três na reportagem sobre o caso. Mas podemos graças à liberdade de expressão garantida na Constituição. A foto faz parte do inquérito da polícia.

Mais cedo nesta terça, Marluce Gomes estava na porta do Palácio da Alvorada, entre os apoiadores do presidente Bolsonaro, e chegou a conversar com ele. O presidente não falou sobre qual das agressões se referia, mas minimizou o fato e atacou o trabalho da imprensa.

“Olha só pra vocês entenderem como é essa imprensa. Mandei levantar se houve corpo de delito. Ele não pediu corpo de delito, não fez. Se houve, foi agressão verbal, o que eles fazem o tempo todo conosco. Zero agressão, mas houve um superdimensionamento daquilo por causa da mídia, porque o interesse deles é tirar a gente daqui”, afirmou Bolsonaro.

O Conselho Regional de Enfermagem pediu que as vítimas registrem as ocorrências individualmente e o Conselho Federal entrou com uma representação no Ministério Público contra os três agressores dos enfermeiros e protocolou o documento na delegacia para abertura de inquérito policial.

“O Renan é o que foi mais agressivo, que chegou a empurrar uma das profissionais. As agressões feitas pela Marluce foram agressões verbais, diminuindo os enfermeiros e menosprezando a profissão e o ato em si. Não é a primeira vez que eles participaram de manifestações desse tipo, sempre muito agressivos e, nesse caso, na última que foi a da enfermagem, chegando às vias de fato. As duas representações serão feitas hoje. Já colecionamos todas as documentações, já estão prontas. E hoje mesmo estarão sendo feita as duas representações”, fala Tycianna Monte Alegre, procuradora-geral do Conselho Federal de Enfermagem.

O Ministério Público do Distrito Federal pediu que a Polícia Civil investigue as agressões a enfermeiros e jornalistas e deu um prazo: 30 dias. Além disso, a Procuradoria-geral da República pediu uma investigação para apurar a conduta de Renan Senna, que, além de atacar os enfermeiros, também defendeu intervenção militar no Supremo Tribunal Federal.

O Ministério da Mulher e dos Direitos Humano declarou, nesta terça, que Renan Senna era trabalhador terceirizado e estava em trabalho remoto por causa da pandemia e que deixou de responder mensagens e telefonemas em 7 de abril. O ministério afirmou que pediu a substituição dele e que a demissão foi concluída nesta segunda (4).

O fotógrafo Orlando Britto, agredido por manifestantes no domingo (3), foi convidado a almoçar com o presidente Bolsonaro e assessores. Segundo Britto, o presidente não pediu desculpas pelas agressões. Bolsonaro disse que não teve culpa e alegou não ter como controlar a multidão.

Assista a íntegra da reportagem do Jornal Nacional

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