A difícil realidade dos enfermeiros diante à pandemia

Com a covid-19, o adoecimento precoce e a morte iminente são cada vez mais reais para os profissionais da enfermagem; estamos perdendo a vida pro coronavírus!

23.03.2021

É época de muito sofrimento para equipe de saúde da região Metropolitana de Cuiabá, que não é menor do que aquele vivido pelos profissionais que atuam no interior do Estado com recursos escassos e alto número de casos da Covid-19.

A enfermagem sempre trabalhou acima do limite por conta do subdimensionamento e do não cumprimento das normas técnicas por parte dos gestores públicos e privados. Hoje, com a pandemia da covid-19, isso toma outra dimensão: o adoecimento precoce e a morte iminente são cada vez mais reais; estamos perdendo a vida pro coronavírus!

Vivemos um momento cruel onde além da própria demanda da pandemia, as ações da fiscalização do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-MT) evidenciam:

Descumprimento da resolução Cofen 02/2020, que preconiza o número correto de profissionais e a quantidade de horas por turno de trabalho. Enfermeiros e técnicos estão trabalhando 80 horas semanais, ou mais, para garantir o próprio sustento, quando a carga não deveria ultrapassar 40 horas.

Condições precárias de trabalho diante da hiperlotação das unidades de saúde, pronto atendimento, enfermarias e UTI públicas e privadas;

Desdobramento sobre-humano para proporcionar atendimento aos doentes de Covid-19, muitas vezes em macas, cadeiras e bancos; locais para acolher 18 pacientes tem hoje cerca de 40;

Vivência constante com a alta gravidade da doença, resposta ruim ao tratamento, alto índice de morte. Todo esforço, dedicação e assistência parecem insuficientes, o que nos causa frustrações significativas e abalo emocional;

Faltam medicamentos e equipamentos e isso sempre recai, no primeiro momento, na equipe de enfermagem;

O Coren-MT considera que estes pontos são determinantes para realidade apocalíptica que a enfermagem está vivendo. Perdemos 44 colegas em um ano de pandemia. Somos a categoria que mais se contamina durante a atividade laboral, embora façamos uso de EPIs. O problema é que nem sempre são ofertados em quantidade suficiente e com a qualidade preconizada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

Enfatizamos que as ações de fiscalização foram intensificadas. Gestores tem sido constantemente notificados para que cumpram as normativas. Porém, não temos o poder sobre as organizações públicas e privadas e recorremos à intervenção do Ministério Público através das Ações Civis Públicas.

Estamos cobrando das autoridades sanitárias o cumprimento de todas as orientações e normas técnicas da profissão. Dos governos, medidas de isolamento social mais rígidas e capazes de impedir o avanço da doença.
Depois de um ano de muita luta pela vida, a experiência mostra que só o distanciamento social e a vacina serão capazes de pôr um ponto final nesta pandemia.

Nós, profissionais de enfermagem, prestamos assistência à saúde com conhecimento científico, técnico e legal atuando na prevenção e no restabelecimento das pessoas. Estamos presentes em todas as etapas da vida. Do nascer ao morrer, todos necessitam da assistência de enfermagem.

A enfermagem apela à sociedade mais atenção e o fiel cumprimento das regras de biossegurança. Lavar as mãos, usar álcool em gel, máscaras e manter o distanciamento social significam preservar a vida. Mas, sobretudo, diminuir os riscos de morte dos profissionais e trabalhadores da saúde.

A sociedade precisa reconhecer nosso trabalho e os gestores garantirem condições adequadas e o dimensionamento mínimo de profissionais nas unidades de saúde. É hora dos Poderes, em especial o Federal, concretizarem a valorização desta categoria através de carga horária adequada e piso salarial digno.

* Lígia Cristiane Arfeli é enfermeira e conselheira-secretária do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-MT).

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