Empreendedorismo na Enfermagem pode trazer soluções para a saúde pública

Para Marta Cristiane Alves Pereira, a enfermagem já possui competências nas práticas cotidianas que podem impulsionar a inovação necessária, tanto nos modelos de prestação de cuidados como na organização dos serviços de saúde

20.09.2021

A enfermagem e o empreendedorismo parecem áreas distintas, mas a realidade da saúde pública brasileira pede inovação e diz o contrário. Com os problemas que a saúde enfrenta hoje, qualificação profissional, tempo de espera para atendimento, falta de leitos, entre outros, empreender nessa área pode ser a grande oportunidade para alunos e profissionais de enfermagem criar novas ideias e contribuir na melhora da saúde pública do País. É no que acredita a professora Marta Cristiane Alves Pereira, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. Para a professora, esses profissionais “ocupam uma posição estratégica para identificar problemas e desenvolver soluções que possam causar impacto na vida das pessoas”.

A análise da professora parte do princípio de que os enfermeiros possuem um profundo conhecimento e experiência na atuação dos diferentes níveis de complexidade da rede de atendimento. Mas, segundo Marta, essas habilidades não são suficientes e precisam das associações de classe e das instituições de saúde para “fortalecer a cultura empreendedora dos enfermeiros”.

Empreender é a capacidade de transformar ideias e oportunidades em ações, criando valor para a sociedade, o que na enfermagem está na saúde e bem-estar das pessoas. “Nesse cenário, consideramos o empreendedorismo uma competência que pode ser desenvolvida a partir da potencialização dos talentos dos próprios enfermeiros, o que permitirá a criação de soluções inovadoras em resposta a problemas e necessidades de saúde que ainda não são plenamente atendidas.”

A professora Marta destaca que os profissionais de enfermagem devem adotar o sistema de empreendedorismo sistemático para que possam se aproximar e compreender as necessidades do cliente, assim como no ambiente hospitalar, com o intuito de desenvolver novas ideias e soluções voltadas para a saúde.

O processo de empreendedorismo sistemático prioriza e valoriza uma profunda empatia pelos desejos, necessidades e desafios do cliente ou usuário, assim é possível entender bem os problemas para desenvolver soluções mais assertivas, abrangentes e eficazes. “Nesse sentido, a enfermagem já possui essas competências, como fundamento às suas práticas cotidianas; ao assumir o protagonismo nesse processo, pode impulsionar a inovação necessária, tanto nos modelos de prestação de cuidados como na organização dos serviços de saúde”, diz a professora.

Segundo Nilsa Mara de Arruda Yamanaka, especialista em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde e fundadora da Consultoria NMA, para que os profissionais de enfermagem criem suas próprias iniciativas, eles devem ser incentivados a olhar o mundo ao seu redor e, a partir disso, desenvolver ideias que possam solucionar problemas que os incomodem. “Os profissionais de enfermagem experienciam diariamente detalhes dos processos na saúde, então é importante sugerir que eles percebam e sintam aquilo que os está instigando e pode ser melhorado, permitir que relatem o que os incomoda e dar subsídios para o desenvolvimento de propostas novas no segmento.”

Nilsa ressalta a importância do profissional analisar o mundo ao seu redor. “Dessa maneira, tanto o aluno quanto o profissional enriquecem suas relações com outros profissionais, ganham maior independência e maior experiência prática.”

Ouça a reportagem na Rádio USP

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