Afastamentos por doenças mentais sobem quase 2.000%

SAÚDE NO TRABALHO - Transtornos psiquiátricos estão entre as dez principais causas de afastamento do trabalho no País, segundo o Ministério da Previdência

29.04.2011

SAÚDE NO TRABALHO – Transtornos psiquiátricos estão entre as dez principais causas de afastamento do trabalho no País, segundo o Ministério da Previdência


O número de auxíliosdoença acidentários devido a transtornos mentais e comportamentais aumentou 1.985% nos últimos cinco anos. Dados do Ministério da Previdência Social mostram que o total passou de 612, em 2006, para 12.150, em 2010. Este total inclui apenas os casos reconhecidos pela perícia do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).


Segundo a médica e pesquisadora da Fundacentro, Maria Maeno, o número real só poderia ser confirmado por meio de pesquisa da Previdência Social. “É importante verificar por que muitos benefícios são negados e também por que a perícia descaracteriza alguns acidentários e os coloca como não-acidentários”, disse Maria.


De acordo com a pesquisadora da Fundacentro, havia um grande índice de subnotificação até 2006. A partir de 2007, ela lembra, mudanças na legislação incluíram a presunção legal da culpa do empregador.


As empresas passaram a ser obrigadas a provar que o trabalhador não adoeceu devido ao ambiente que oferecem. O número começou a aumentar. “O novo número, naquele ano, ainda não refletia o total real, já que levou tempo até que a regulamentação nova estivesse sendo cumprida”, explicou ela.


Desde então, além da melhoria das condições de trabalho, que já haviam sido impulsionadas por outras leis, verificouse maior investimento em programas de preservação da saúde mental. “Os programas de medicina do trabalho procuram fazer exames de saúde para avaliar os sintomas anteriores e assim conseguir direcionar a pessoa para uma área mais adequada”, contou o psiquiatra e médico do trabalho do Instituto de Saúde Mental e Trabalho, Duílio Antero de Camargo. Nas últimas décadas, problemas de transtornos mentais começaram a ter evidência e já ocupam as primeiras posições em número de afastamentos.


Segundo a médica do trabalho do Hospital Adventista Silvestre, Maria Alice Freyre Shuback, os transtornos mentais são multifatoriais.
“Para a maioria dos trabalhadores, que ganha mal, mora mal, enfrenta trânsito, um ambiente de trabalho desfavorável pode acarretar no desencadeamento desses distúrbios”, disse ela.


SINTOMAS


Consultores afirmam que muitas pessoas não chegam a entrar nas estatísticas.


Com medo de serem taxadas de problemáticas e por receio de perderem seus empregos, acabam não procurando ajuda. “É importante treinar os gestores para que auxiliem no diagnóstico, pois eles conseguem perceber mudanças no comportamento dos funcionários”, afirmou Maria Alice.


“O paciente sofre no trabalho e mesmo assim não se revela. É difícil admitir que está adoecido. O chefe ter sensibilidade para observar que é por conta disto que o trabalhador não está mais rendendo e não é uma questão de descaso”, completou Maria Maeno.


Os sintomas comuns são desmotivação, dores de cabeça e mal-estar contínuo, alterações do sono e o descontrole das suas obrigações e da sua rotina. Os profissionais mais atingidos são aqueles que se relacionam diretamente com o público e os que trabalham com a pressão de metas.


Destacam-se os profissionais da área da saúde, bancários, vendedores, professores, motoristas e policiais.
O gerente comercial Jefferson Viana contou que com a pressão das metas, não consegue nem descansar nos finais de semana. “Domingo à noite, o diretor liga cobrando produção. Minha esposa começa a reclamar e acabamos brigando. Hoje eu sou hipertenso e engordei muito”, disse Viana.


Para Maria Alice, o trabalhador geralmente reluta em procurar tratamento por não gostar de se sentir incapaz. “Costumo fazer uma analogia entre a psicoterapia e a academia. Quando alguém deseja ter o abdômen sarado, enrijecer os músculos, procura uma academia sabendo que o resultado não é imediato. A psicoterapia funciona da mesma forma, é gradativa. Funciona como um caminho para melhorar a sua habilidade de lidar com as suas emoções”, disse a médica.


Durante o tratamento, a pessoa se submete a sessões de psicoterapia e, às vezes, também faz uso de remédios. O afastamento, quando necessário, serve para conseguir estabilizar o humor, o sono e acostumar com a medicação. Dependendo do grau da doença, gera afastamento de até 60 dias.


REABILITAÇÃO


No caso da reabilitação, dizem os especialistas, é importante a pessoa sentir que terá o acolhimento da empresa. “Temos que fazer uma avaliação muito criteriosa dos sintomas que já são da pessoa e o que o trabalho desencadeou.


Se, na avaliação, descobrimos que a causa é do trabalho, vamos tentar modificar o ambiente ou readaptar a pessoa em outro cargo. Se não der certo, podemos readaptála para outro local de trabalho”, afirmou Camargo.


Maria Maeno ressalta que, sem mudanças na organização do trabalho, qualquer iniciativa será apenas um paliativo.
“Existe uma cadeia que precisa funcionar: prevenção precoce da incapacidade, tratamento adequado e mudança nas condições de trabalho”.

Compartilhe

Receba nossas novidades! Cadastre-se.


Fale Conosco

 

Conselho Federal de Enfermagem

SCLN Qd. 304, Lote 09, Bl. E, Asa Norte, Brasília – DF

61 3329-5800 | FAX 61 3329-5801


Horário de atendimento ao público

De segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h

Contato dos Regionais