Baixo índice de registros e assistência são desafios para enfermagem obstétrica

Tema foi discutido em mesa redonda com representantes dos Corens no 21º CBCENF 

28.11.2018

Quantitativo de 7 mil enfermeiros obstetras registrados em todo o país não representa a realidade, além de ser muito inferior aos 50 mil necessários para atender demanda

O quantitativo de 7 mil enfermeiros obstetras registrados em todo o país não representa a realidade, além de ser muito inferior aos 50 mil necessários para atender à demanda atual. O baixo índice de registro destes profissionais, as deficiências de formação e a subnotificação dos partos assistidos por enfermeiros foram alguns dos problemas apontados pelos representantes de grupos de trabalho, comissões e câmaras técnicas de saúde da mulher dos conselhos regionais que compõem o Sistema Cofen/Conselhos Regionais, reunidos na mesa redonda “Enfermagem em evidência: foco na valorização profissional da enfermagem em saúde das mulheres”, nesta terça-feira (27), durante o 21º CBCENF.

A atividade marcou a consolidação do planejamento estratégico de valorização da enfermagem obstétrica, neonatal e de saúde da mulher da Comissão de Saúde da Mulher do Cofen, feito com base nos eixos da gestão, da formação e do cuidado, que deverão ser trabalhados a partir de 2019. A iniciativa é fruto das articulações entre a Comissão e os regionais de todo o país, que têm incentivado a fiscalização no campo da saúde das mulheres e promovido a intervenção pela qualificação da formação.

No Brasil, são registrados cerca de cinco mil partos assistidos por enfermeiros ao ano, um número que é subnotificado, segundo o coordenador da Comissão Nacional de Saúde da Mulher do Cofen, Herdy Alves. Para eles, “as redes municipais e estaduais de saúde não registram os partos assistidos por enfermeiros, muitas vezes, o médico é quem assina. Precisamos reverter isso trabalhando a autonomia e a identidade das enfermeiras nesta prática avançada”.

Encontro reúne câmaras técnicas e GTs de Saúde da Mulher

Durante a mesa redonda, representantes de oito estados apresentaram ações iniciais já implementadas e as previstas para os próximos anos. O Coren- SE, apesar de ainda não ter a câmara técnica instaurada, iniciou o trabalho de fiscalização das 12 maternidades do estado, tendo diagnosticado problemas como o das equipes. “Algumas maternidades apresentam quadro reduzido de funcionários e superlotação, por exemplo. Temos em média 63 profissionais registrados, mas sabemos que isso não reflete a realidade”, comentou a representante sergipana, enfermeira Elline Dantas.

Segundo ela, a situação também é conseqüência da precarização das condições de trabalho, já que, em muitos casos, hospitais contratam enfermeiros obstetras como se fossem assistenciais para pagar salários menores.

Entre as ações da câmara técnica do Coren-MT, foram apresentadas as participações na Semana da Enfermagem de Cuiabá, em maio, e a realização do seminário “Enfermagem e Enfermagem Obstétrica: perspectivas para o Estado de Mato Grosso”,  em novembro.

Em Cuiabá, são realizados cerca de 1.500 partos por mês, grande parte deles assistidos por enfermeiros, mas não contabilizados como tal. “Não temos apontamentos, números sobre isso e, sem eles, não conseguimos trabalhar. Uma de nossas prioridades é fazer esses registros e garantir que estes profissionais sejam contratados como enfermeiros obstetras para que possamos aparecer e assim lutar pelas nossas metas”, comentou a presidente da Abenfo-MT e membro da CTSM, Júlia Salomé.

Para Vera Bonazzi, representante da Comissão Nacional de Saúde da Mulher do Cofen, quantidade de profissionais registrados está muito aquém da realidade e das necessidades. “Precisamos investir na formação deste especialista, trazendo qualidade na atenção e no cuidado. Por isso, estamos propondo algumas estratégias em cada estado”, salientou. Segundo ela, a falta de autonomia do enfermeiro obstetra para a realização de procedimentos como o preenchimento da autorização e internação hospitalar, mesmo diante da existência de uma portaria em favor da prática, é outro gargalo.

Para o usuário, a conseqüência é a queda da qualidade do cuidado, já que o enfermeiro obstetra é o mais qualificado para identificar as reais necessidades dos pacientes e atuar pela humanização, pela autonomia da gestante e pelo envolvimento da família.

No evento, também foi anunciada a realização da pesquisa “Força de trabalho na enfermagem obstétrica”, coordenada pela Associação Brasileira de Enfermeiros Obstétricos e Neonatais (Abenfo), em parceria com instituições como o Cofen, a Associação Brasileira de Enfermagem (Aben), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a ONU Mulheres, com a qual se espera suprir a carência de informações sobre os profissionais. Cerca de 400 hospitais de todos os estados do país compõem a amostra.

“Precisamos que as políticas públicas de qualificação do cuidado às mulheres, crianças e famílias sejam fortalecidas para garantir os preceitos constitucionais”, opinou a presidente da Abenfo, Kleyde Ventura de Souza.

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