Cofen apoia Projeto Apice On, que fortalece Rede Cegonha

"Nada é mais inovador do que mudar o ensino pela prática", destacou a enfermeira obstétrica Kleyde Ventura, no lançamento do projeto

18.08.2017

Projeto Apice On tem apoio institucional do Cofen

Com presença maciça dos representantes de hospitais de ensino, gestores e entidades da Saúde, foi lançado nesta quinta-feira (17/8), em Brasília, o Projeto Apice On – Aperfeiçoamento e Inovação no Cuidado e Ensino em Obstetrícia e Neonatologia.

“Nada é mais inovador do que mudar o ensino pela prática. Este projeto toca quem nunca foi tocado, professores, preceptores, responsáveis pela formação”, destacou Kleyde Ventura, presidente da Associação Brasileira de Enfermagem Obstétrica (Abenfo) e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), executora do projeto, desenvolvido pelo Ministério da Saúde.

Para a diretora do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde (DAPES/MS), Thereza de Lamare, “a importância do projeto está na complementação das ações e aprimoramento da Rede Cegonha [estratégia que assegura a atenção humanizada na gravidez, parto e puerpério, o direito ao planejamento reprodutivo e ao nascimento seguro]”. “O SUS está em um momento difícil, mas ele é um projeto projeto de país. E nós precisamos terminar de construir este projeto”, destacou.

Construção de Consensos – Apoiador institucional do Apice On, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) participou do seminário de apresentação do programa, representado pela conselheira Fátima Sampaio, da Comissão de Saúde da Mulher. A mesa de abertura teve a presença de representantes do Ministério da Educação (MEC), Fiocruz, UFMG, Conass, Conasems, Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), Associação Brasileira de Hospitais Universitário Ensino (ABRAHUE), Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetricia (Febrasgo), Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (Abenfo), todos parceiros no Projeto Apice On.

Ao final do seminário, todos os hospitais de ensino presentes assinaram o termo de adesão ao Apice On.

“Achei que iria me aposentar sem ver um evento como este”, afirmou Juvental Andrade, da Febrasgo, defendendo a prática integrada da obstetrícia e neonatologia e o ensino compartilhado das residências médica e de Enfermagem obstétrica. Ao final do seminário, todos os hospitais de ensino presentes assinaram o termo de adesão ao Apice On.

As Diretrizes para Parto Normal no Brasil, pactuadas por atores técnicos e sociais, já reúnem consensos baseados em evidências científicas, que devem nortear a assistência ao parto. O descompasso entre as práticas recomendadas e as vigentes foi destacado em mesa redonda com Kleyde Ventura, Sônia Lansky (Comissão Perinatal de Belo Horizonte) e Marcos Dias (IFF/Fiocruz).

90% das cesarianas realizadas no Brasil acontecem fora de trabalho de parto, aumentando os riscos respiratórios para o recém nascido, e 45% são realizadas sem nenhuma indicação, em gestações de risco habitual. Os números dos hospitais universitários não diferem significativamente dos encontrados em outros locais de assistência. Transformar a realidade exige um novo campo de práticas.

Violência Obstétrica e a transformação pelo parto – “Não podemos falar sobre os desafios da atenção obstétrica e neonatal sem ouvir as mulheres e bebês”, afirmou Kleyde Ventura, que convidou à mesa a puérpera Renata Reis, acompanhada do bebê Bernardo. Médica obstetra e militante do parto humanizado, Renata comoveu os presentes relatando sua transformação profissional e o nascimento do bebê, em parto domiciliar assistido por enfermeiras obstétricas.

Obstetra comoveu os presentes relatando sua transformação profissional e o nascimento do filho, em parto domiciliar conduzido por enfermeiras.

“Na primeira vez que ouvi falar em ‘violência obstétrica’, levei um soco no estômago. Então aquilo que eu fazia, que aprendi na faculdade, era violência?”, contou Renata, que, ainda interna foi ensinada a fazer episiotomia, episiorrafia e manobra Kristeller — pressões inadequadamente aplicadas ao fundo uterino no período expulsivo, hoje proscritas aos profissionais de Enfermagem.

Numa prática em área rural, conheceu outra possibilidade de atenção ao nascimento e descobriu na assistência compartilhada “a medicina sonhada por toda a vida”. “Quando eu vi as enfermeiras obstétricas atuando eu pensei: ‘nossa, mas cabe amor nesta relação?”, contou, emocionada. “Eu não preciso de nenhum recurso para não gritar, para dar a minha mão, para não mandar a mulher calar, tudo o que já fiz, já reproduzi”.

No próprio parto, Renata precisou “aprender a calar vozes interiores”. O bebê estava defletido e assincrético, posições que dificultam o nascimento. As enfermeiras obstétricas usaram a técnica de spinning baby, numa “intervenção bem vinda, amorosa, consentida”, que conduziu Bernardo à posição fisiológica.

A evolução era lenta, e o medo grande. A equipe incentivou a obstetra, entre contrações do trabalho de parto ativo, a ser tocar. Aplicação de gelo ajudou a reduziu o inchaço, e o parto seguiu.

Com “cada centímetro do círculo de fogo queimando”, Renata entrou no expulsivo. Nasceu Bernardo. “Eu chorava. Eu ria. Era o êxtase”. O bebê chorou um pouquinho e foi para o colo da mãe. “Depois as enfermeiras puseram uma fralda aquecida, mas entre eu e ele não havia nada”. Coberto de vernix, com a mãe suada, ensanguentada, o menino ficou aninhado, pele a pele, vernix com suor, quietinho.

“Nascimentos respeitosos e amorosos são capazes de mudar o mundo, sim”, concluiu Renata, encerrando a narrativa, enquanto o pequeno Bernardo acordava no sling.

 

 

Serviço

Acesse a primeira revista do Apice On e conheça melhor o projeto.

 

 

 

 

 

 

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