Coren-PE realiza entrega da primeira carteira com nome social no estado

"Eu quero abrir caminhos, abrir espaços... Eu quero falar que as pessoas trans podem e devem ser respeitadas, elas podem ser produtivas para sociedade. Pra mim é uma felicidade enorme estar aqui”, pontuou o técnico de Enfermagem Val Souza.

14.08.2017

Presidente do Coren-PE entrega a carteira profissional ao técnico de Enfermagem Val Souza

O Coren-PE, através de sua presidente Marcleide Cavalcanti pôs em prática um importante passo rumo ao reconhecimento dos direitos de travestis e transexuais. Pela primeira vez no estado de Pernambuco, um técnico de enfermagem trans foi autorizado a utilizar o nome social no registro da entidade, direito assegurado pela Resolução Cofen 537/2017.

O técnico de Enfermagem Val Souza, 41 anos, em seu discurso, contou que já morou nas ruas, mas que conseguiu dar a volta por cima. “Eu fui menino de rua por conta desta condição. Eu morei na rua, eu perdi o contato com a minha família. Até os 24 anos eu só tinha a sétima serie. Mas eu resolvi mudar a minha história, voltar pra escola e me formar. Hoje eu tenho 18 cursos. Eu sabia que eu era tudo aquilo que as pessoas rejeitavam. Então, tudo que eu faço não é só por mim, é por todas as pessoas que lutaram, que morreram e que ainda estão lutando para transformar a vida das pessoas LGBT. Essa minha transição não ficou só no individuo, hoje eu faço parte da AHTM (Associação de Homens Trans & Transmasculinidades) que é para romper essas barreiras e dar voz a essas pessoas” destacou Val Souza.

“Não é fácil ser reconhecido trans num país super homofóbico e transfóbico. É uma luta diária. Um esforço tremendo pra se desconstruir, por que antes de qualquer coisa a gente recebe toda uma construção que não é nossa. Desconstruir tudo isso é o primeiro obstáculo. Só quem é trans sabe a dor a delícia de ser o que é! Eu quero abrir caminhos, abrir espaços… Eu quero falar que as pessoas trans podem e devem ser respeitadas, elas podem ser produtivas para sociedade. Pra mim é uma felicidade enorme estar aqui”, comemorou.

Para o coordenador estadual da saúde integral da população LGBT, Luiz Valério, a entrega desta primeira carteira de identidade profissional com nome social é mais que uma ação de cidadania. ““Eu acho que a gente está fazendo aqui uma ação de cidadania, de controle social, de respeito a esse homem trans e no reconhecimento do indivíduo. Essa é uma ação que nós, da política de saúde LGBT do Estado, temos como objetivo afetar positivamente os Conselhos de saúde, e dentro dessas esferas promover a compreensão e o reconhecimento dos direitos trans. O reconhecimento do uso do nome social é reconhecer a existência de um ser na terra. E dar o direito do outro existir”, explicou Luiz Valério, presente na cerimônia.

Val Souza foi o primeiro profissional de Pernambuco a ter carteira com nome social

O Coren-PE explica que a requisição é simples e para incluir o nome social, basta o profissional fazer a solicitação, por escrito, junto ao Conselho, atendendo à Resolução Normativa nº 0537/2017, em decorrência do Decreto nº 8.727/2016, que dispõe sobre o reconhecimento da identidade de gênero no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Entende-se por nome social aquele adotado pela pessoa, por meio do qual se identifica e é reconhecida na sociedade, a ser declarado pelo próprio profissional, sendo obrigatório o seu registro.

“Reconhecer esse direito é um grande avanço para garantir tranquilidade ao exercício profissional. O que estamos fazendo não é apenas nosso dever enquanto Conselho, mas uma responsabilidade social no tocante a dignificar a pessoa trans. As pessoas que têm medo de se posicionar perceberão que o direito delas está sendo garantido. O dia de hoje representa a quebra de uma barreira quando possibilita um profissional de enfermagem utilizar seu nome social. É como diz o professor Boaventura de Sousa Santos: ‘toda pessoa tem o direito a ser igual quando a sua diferença o inferioriza; e todos têm o direito a ser diferentes quando a sua igualdade os descaracteriza’. E é com muita alegria que parabenizo Val Souza pela busca de ter o seu direito respeitado e reconhecido”, finalizou a presidente Marcleide Cavalcanti.

 

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