Demandas de décadas da Enfermagem se sobressaem no combate à pandemia

Faltam no mundo seis milhões de enfermeiros para atender às necessidades de assistência à saúde da população, de acordo com a OMS

09.04.2020

“O enfrentamento da pandemia da Covid-19 está expondo de forma excepcional as demandas históricas da Enfermagem quanto às condições de trabalho, EPIs, carga horária, remuneração e, até então, a invisibilidade social da categoria”. A afirmação é da presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren-PR), Simone Peruzzo, que, em manifestação pública dirigida à população, ressalta as vulnerabilidades a que a categoria está exposta e como isso se reflete na assistência à saúde de toda sociedade.

Em pleno 2020, em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como ‘O Ano da Enfermagem’, a categoria é colocada à prova frente a um cenário de guerra. A projeção da OMS é que faltam no mundo seis milhões de enfermeiros para atender às necessidades de assistência à saúde da população. Segundo o diretor da OMS, Tedros Adhanon Ghebreyesus, “os enfermeiros são a espinha dorsal de qualquer sistema de saúde” – afirmação divulgada esta semana em texto oficial da entidade no Dia Mundial da Saúde, comemorado em 7 de abril.

No Brasil, a situação não é diferente do cenário divulgado pelas entidades internacionais. Os mais de 2,3 milhões de profissionais da área, um verdadeiro exército, majoritariamente feminino, composto por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, não são suficientes para atender as demandas que a pandemia exige. Basta ver a necessidade de convocar formandos, estudantes e trabalhadores que já não atuavam na profissão a assumir este fronte.

No Paraná, são quase 105 mil profissionais inscritos no Conselho de Enfermagem, cuja característica principal é o descontentamento com a falta de Leis que regulamentem jornada de trabalho, insalubridade, salários dignos, dimensionamento adequado de equipe, estrutura adequada de descanso para os plantões, comumente dobrados e capacitação permanente – condições que outras profissões já conquistaram.

A presidente do Coren-PR destaca que alguns hospitais particulares e as entidades que representam os interesses dessas instituições comemoram o ganho de ações judiciais impedindo que o Conselho defina o dimensionamento adequado da equipe de Enfermagem de acordo com o grau de dependência do paciente atendido. “Entendo essa situação como precarização da assistência, onde o investimento em equipamentos, ampliação da área física, entre outras ações, acaba sendo soberano ao número adequado e à qualificação dos recursos humanos”, diz Simone Peruzzo.

O alerta da OMS, da ONU – com a Campanha Nursing Now, e do Conselho Internacional de Enfermeiros joga luz ao trabalho incansável das organizações da Enfermagem, que lutam há décadas para o reconhecimento da natureza e responsabilidade da profissão, buscando melhores condições de trabalho e remuneração. “É hora da sociedade assumir esses desafios, reconhecendo o protagonismo que a Enfermagem exerce, dando a ela condições de desempenhar sua prática social com qualidade e segurança. Investir na Enfermagem é investir na sociedade como um todo”, enfatiza Simone.

Além de dirigir uma carta da enfermagem à população, o Coren-PR também enviou uma carta aos parlamentares, chamando a atenção de vereadores, deputados e senadores sobre a necessidade de aprovar projetos de Leis que tramitam há mais de duas décadas no Congresso Nacional, aprovados pelas diferentes comissões sem que sejam votados pelos deputados e senadores.

EXEMPLO – Não faltam exemplos do comprometimento que a categoria tem frente aos desafios da profissão. O conselheiro Marcio Roberto Paes, enfermeiro do Hospital de Clínicas da UFPR e professor doutor do Departamento de Enfermagem, alugou recentemente um apartamento próximo do HC. A medida não se trata apenas de estar mais próximo do trabalho, mas sim uma forma de proteger sua família frente à possibilidade de contágio da nova doença. “Ao escolher a Enfermagem sabia dos riscos assumidos. Portanto, neste momento, decidi com a minha família que o melhor é nos preservarmos, mantendo a distância física, mas continuamos conectados, cuidando uns dos outros”, diz.

Além do dia a dia na UTI, o Dr. Marcio é um dos mais de 80 Enfermeiros assistenciais e docentes da área de Saúde Mental que participam do Programa criado pelo Sistema Cofen/ Conselhos Regionais “Enfermagem Solidária” (https://juntoscontracoronavirus.com.br/), que oferece apoio psicológico aos profissionais de enfermagem que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus.

Leia aqui a íntegra das cartas abertas:

Carta à população

Carta aos parlamentares

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