Desafios da Enfermagem: a jornada de cuidado na Amazônia

O enfermeiro Yago Macêdo conta sua história de superação

30.01.2025

Imagens aéreas do rio curuça
Rio Curuçá, Amazônia

Foi em Curuçá, no nordeste do Pará, onde os rios são as vias mais importantes de transporte e as distâncias parecem se ampliar em cada curva da água, que uma história de superação, e inusitada, aconteceu nas primeiras semanas do ano corrente. Aconteceu no distrito de Abade, local em que o Enfermeiro Yago Macêdo se deparou com um cenário raro e desafiador.

Maria Cecília, uma pequena criança que, antes mesmo de nascer, já enfrentava os desafios da Amazônia, veio ao mundo a bordo de uma canoa. Como se não fosse o bastante para a mãe e para a equipe de saúde, o parto aconteceu às margens do rio, sem as condições ideais de um centro de saúde.

Yago, que há quase três anos atua como profissional de Enfermagem na região, relatou a experiência com um olhar de quem vive a realidade do interior. A ação foi rápida e envolveu não apenas sua experiência, mas também o apoio da equipe técnica de Enfermagem e o auxílio de um motorista, que se tornou mais importante ainda nesse momentos de grande tensão.

“Naquele momento, a situação exigia que agíssemos com a maior rapidez possível. A gestante estava bem consciente, sem sangramentos, o que foi um alívio para todos nós. O bebê, porém, estava com dificuldades respiratórias. Ele estava um pouco cianótico, o que nos fez agir rapidamente na desobstrução das vias aéreas e manter sua temperatura. Quando conseguimos estabilizá-lo, ele começou a chorar, o que nos deu a sensação de que tudo ficaria bem”, contou o profissional de Enfermagem.

O processo foi tudo, menos simples. A canoa, apesar de ser o meio de transporte mais comum entre os ribeirinhos, não oferece a estabilidade necessária para realizar um atendimento com os mínimos recursos. Yago falou das dificuldades de equilíbrio, da pressa para agir e da incerteza de como garantir que, naquelas condições, mãe e filha chegariam com segurança ao hospital.

“Foi uma luta contra o tempo e contra as condições. Não estamos preparados para realizar um atendimento dentro de uma canoa, com o movimento das águas e a falta de estrutura. O equilíbrio foi uma grande dificuldade. Eu, a técnica de Enfermagem e o motorista fizemos o nosso melhor, sempre pensando em garantir a segurança dos dois”, destacou.

Com a agilidade da equipe, a mãe e a criança finalmente foram levadas para o hospital, onde a avaliação continuou. A jornada, no entanto, não terminou ali. Além de garantir os cuidados pós-parto, como a retirada da placenta e a administração de medicação para prevenir hemorragias, foi necessário um acompanhamento completo da saúde da mãe e do bebê. As medidas antropométricas do recém-nascido, a checagem dos sinais vitais e o contato pele a pele com a mãe foram apenas algumas das ações que seguiram.

“A cada etapa, eu sabia que tínhamos feito o melhor que podíamos com os recursos que tínhamos à disposição. O nosso trabalho vai muito além da técnica. É sobre estar presente, é sobre ser a esperança em meio ao imprevisto”, disse.

Yago lembra também da importância do contato com a mãe, que era acompanhada de perto para garantir que todas as etapas do pré-natal tivessem sido realizadas corretamente. Para a criança, a observação era constante, assim como os exames solicitados para garantir que não houvesse nenhuma complicação futura.

Embora a experiência tenha sido difícil e cheia de desafios, Yago não consegue esconder a satisfação de ter cumprido sua missão. “É uma satisfação indescritível saber que conseguimos proporcionar o cuidado necessário, mesmo em uma situação tão adversa. Isso é o que move a Enfermagem. Não se trata de recursos ou de estrutura, mas da vontade de cuidar e de fazer o bem, onde quer que estejamos”, conclui Macêdo.

Fonte: Coren-PA

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