Diretor responsável por vacinação nos EUA renuncia, citando falta de transparência

Peter Marks, responsável por garantir a segurança e eficácia das vacinas, escreveu em carta de demissão que secretário [de Saúde] não deseja transparência, mas mera "confirmação subserviente de suas desinformações e mentiras”. Entenda como vacinas são fundamentais para evitar retorno de doenças imunopreveníveis

31.03.2025

Peter Marks, diretor da FDA

Peter Marks, diretor responsável pela avaliação e pesquisas de vacinas na FDA, agência americana equivalente à Anvisa, renunciou ao cargo, citando a pressão anti-vacina do atual secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr. “Eu estava disposto a trabalhar para esclarecer as preocupações do secretário quanto à segurança das vacinas”, afirmou, em carta amplamente repercutida pela imprensa norte-americana. “No entanto, ficou claro que verdade e transparência não são desejadas pelo secretário, que prefere a confirmação subserviente de sua desinformação e mentiras”. A renúncia se efetivará no dia 5 de abril.

A indicação do secretário RFK Jr., sobrinho do presidente assassinado John Kennedy, foi marcada por controvérsia devido a seu envolvimento em teorias conspiratórias comprovadamente equivocadas, que associam a vacinação ao autismo.

O secretário chegou a colocar em dúvidas se germes são causa de infecções. 77 ganhadores do prêmio Nobel escreveram uma carta ao Senado norte-americano, pedindo a não-confirmação do secretário, indicado pelo presidente Donald Trump. Os cientistas citaram o perigo à Saúde Coletiva. 

Retorno de doenças imunopreveníveis

Teorias da conspiração associando a vacina tríplice viral ao autismo levaram ao um ressurgimento da doença, em vias de erradicação na Europa e Estados Unidos, após a queda nos índices de imunização e aumento da hesitação vacinal. Já são 378 casos confirmados nos Estados Unidos, maior contagem dos últimos cinco anos. O Brasil recuperou, em 2024, certificado de eliminação do sarampo e rubéola. A vacina integra o PNI.

Pais velam os túmulos de Tamara e Sale, gêmeos de 13 meses mortos durante surto de sarampo em Samoa (Misiona Simo/Samoa Observer)

“É importante que cada profissional de Enfermagem esteja atento para identificar oportunidades vacinais, tanto nas consultas de puericultura, quanto nos atendimentos de demanda espontânea. Escutar as famílias e esclarecer dúvidas ajuda a vencer a desinformação”, ressalta a enfermeira Ivone Amazonas, coordenadora da Câmara Técnica de Enfermagem e Saúde da Criança (CTESC/Cofen).

O marco da desconfiança internacional sobre vacinas, que ainda reverbera nos dias atuais, aconteceu em 1998, quando o ex-médico Andrew Wakefield apresentou uma pesquisa preliminar, posteriormente despublicada pela revista Lancet, associando a tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba, ao autismo. Ao analisar o estudo, em 2004, foi constatada fraude nos dados e o conflito de interesses do próprio médico, que perdeu a licença de exercício profissional. Mapeamento do Telegram demonstra como comunidades conspiracionistas monetizam com movimento antivacina.

O sarampo é uma doença altamente contagiosa, causada por um vírus da família paramyxorividae. Antes da introdução da vacina, em 1963, epidemias de sarampo chegaram a causar até 2,6 milhões de mortes ao ano.  A doença continua a ser uma das principais causas de morte entre crianças pequenas no mundo, apesar de haver uma vacina segura e eficaz. Aproximadamente 110 mil pessoas morreram por sarampo em 2017 – a maioria crianças com menos de cinco anos, em países em desenvolvimento.  De 2000 a 2017, a vacinação contra o sarampo evitou aproximadamente 21,1 milhões de mortes, segundo dados da OPAS/OMS.

Com população de 200 mil pessoas, Samoa registrou  5700 casos de sarampo em 2019, com 83 mortes, quase todas de crianças, meses após a visita de RFK Jr., então presidente da organização anti-vacina Children’s Health Defense. “O caso de Samoa sublinha como mesmo uma figura proeminente antivacina pode ser capaz de dar início a uma crise de Saúde pública”, afirma o professor Tony Young, em editorial na revista científica Lancet.

Fake news em Saúde é infração ética 

O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) participa, desde 2020, de campanhas contra a difusão de notícias falsas na Saúde.  Enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem podem responder processos éticos em caso de difusão de fake news. Responsável não apenas pela administração e prescrição de vacinas, mas também pelo acompanhamento de seus efeitos adversos, a Enfermagem tem um papel histórico de protagonismo na vacinação no Brasil, desde o início do PNI. Na linha de frente do atendimento, a equipe realiza o primeiro contato com pessoas impactadas pela desinformação. 

Fonte: Ascom/Cofen - Clara Fagundes

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