Encontro Latinamericano debate os rumos da Saúde Mental

Representantes dos países discutiram os problemas e caminhos para a saúde mental e lançaram a Carta de Intenções de Foz do Iguaçu

14.11.2019

Congressistas se reúnem durante evento sobre Saúde Mental

“O conceito da felicidade não é aquele conceito muito trabalhado pelo pessoal da saúde. O pessoal da saúde cuida da saúde.” Foi com essa reflexão que o psiquiatra e professor, Pedro Delgado, abriu sua palestra no III Encontro Latino Americano de Enfermagem em Saúde Mental que, durante os dias 12 e 13 de novembro, discutiu no 22ºCongresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem (CBCENF) os rumos da Saúde Mental.

Delgado é um dos idealizadores da Lei 10.216/2001, chamada Lei da Saúde Mental que, extinguiu, progressivamente, os hospitais psiquiátricos, os chamados hospícios e manicômios. Ele falou sobre o Movimento da Saúde Mental Global, liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Centro de Pesquisa com o objetivo de lutar pela melhoria das condições de saúde mental no mundo. É um movimento que foi constituído mais especificamente nos anos de 2007/2008, com o objetivo de se fazer um enfrentamento aos graves problemas de saúde mental identificados em todo o mundo.

“O movimento da saúde mental veio para incorporar outras formas de pensar todos os desafios, que não são apenas as formas de cura e tratamento, as formas convencionais, tradicionais e de prevenção. Um tratamento pautado por conceitos como o bem-estar, a felicidade”, explicou.

Espaço para falar de Saúde Mental – O Encontro Latinoamericano de Saúde Mental está em sua 3ª edição e faz parte da série de discussões realizadas no CBCENF. “É um espaço importante que o Cofen abre para falar da saúde mental da população e também dos profissionais da Enfermagem que lidam diariamente com a dor, a perda, o estresse do trabalho que desenvolvem”, explicou Dorisdaia Humerez, coordenadora Comissão Nacional de Saúde Mental do Cofen.

Palestrantes discursam durante o evento de saúde mental

Os problemas relacionados à Saúde Mental afetam todo o mundo – sejam os países pobres, aqueles em desenvolvimento ou os mais desenvolvidos, sejam os mais ricos. Mas, certamente, afeta de forma diferente, de acordo com a sua etapa de desenvolvimento. Um dos temas da saúde mental é justamente a relação da pobreza com os problemas de saúde mental. Esse é um dos conceitos sobre a Saúde Mental Global, denominado sofrimento social, que se manifesta em primeiro lugar como sofrimentos mentais, sofrimentos psíquicos, que também têm repercussão corporal.

O sofrimento está presente na vida humana, nas organizações do trabalho, e nas diversas formas de realização humana na terra. Nos dois dias de seminário, os representantes de entidades brasileiras e dos países latinos debateram sobre como é possível cuidar da saúde mental de todas as pessoas. Uma pergunta para todo o Mundo se fazer. Discutiram sobre os diversos problemas que afligem esses países atualmente, como o desmantelamento das políticas públicas da saúde, especificamente da saúde mental, e quais as formas de resistência para barrar esses problemas.

Por que o trabalho, a vida na cidade, no campo, têm tantos condicionantes que fazem com que o sofrimento social esteja presente nas diversas regiões do planeta? Como preencher a lacuna que existe entre o grande número de pessoas precisando de atendimento em saúde mental em relação a disponibilidade de serviços capazes de atende-los de forma adequada. “Isso existe nos países desenvolvidos da Europa, mas certamente existe, em maior grau, nos países da América do Sul, em desenvolvimento, em países da África, que têm muito menor densidade, menor organização dos recursos, que os países mais ricos”, alertou Delgado.

Para Carla Ventura, professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, ainda há uma necessidade de formação de recursos humanos nessa área. “Apenas 1% dos profissionais de saúde trabalham com saúde mental. Além disso, a relação da saúde mental com a pobreza, indica que as pessoas com mais falta de recursos têm mais problemas de saúde mental”. Para ela, nesse quadro de exclusão são necessários muitos encontros positivos como esse realizado pelo Cofen, que abre espaço para que se discuta a educação dos profissionais, principalmente da área da Enfermagem e do papel que eles têm na consolidação dos direitos e no exercício do direito das pessoas com transtornos mentais e de usuários de substâncias.

O representante da Argentina, Hector Damiãn, ressaltou o desafio de abordar a saúde mental na atenção comunitária. “Não podemos segregar as especialidades da saúde, precisamos descontruir este posicionamento e atuar no cuidado transversal, enfocar os fatores de proteção, identificando os fatores de possibilidade de risco, ajudando a melhorar a saúde, com isso contribuindo para que os usuários identifiquem suas potencialidades e suas debilidades”. Para ele, é importante fortalecer ações que promovam uma boa convivência familiar, fortalecer as redes de apoio social realizando atividades que promovam a convivência na comunidade, realizar atividades que estimulem a cultura, a proteção e o cuidado das crianças e reduzir a violência escolar, o bullying através de dinâmicas educacionais para a paz, resolução de conflitos e habilidades para a vida.

Um encontro de ideias e compartilhamento de experiências – Dorisdaia Humerez viu no encontro uma possibilidade de troca de experiência dos profissionais do Brasil e da América Latina. “Foi uma discussão muito rica, os participantes mostraram uma grande disponibilidade em manter uma luta para a sustentação da reforma psiquiátrica”.

Os profissionais dos países vizinhos ao Brasil trouxeram uma bagagem muito importante de conhecimento e de práticas inovadoras.

Para Dorisdaia, eles trouxeram, principalmente, uma vontade de mudar, de dar mais visibilidade à Enfermagem para que seja mais valorizada. Essa união entre os países proporciona a realização de um trabalho em favor, tanto da saúde mental dos trabalhadores da Enfermagem, como da população e, especialmente, das pessoas que têm transtornos mentais.

Doris chama a atenção para a Portaria publicada pelo Ministério da Saúde, e posteriormente, uma Nota Técnica, também da Saúde, que definiram que os hospitais psiquiátricos façam parte de uma rede de atenção à saúde mental, uma resolução que vai contra a Lei da Saúde Mental, criada para desativar esse tipo de tratamento. “A Rede de Atenção Comunitária, é substitutiva ao hospital psiquiátrico”.

Lançamento da Carta – Ao final do encontro, os participantes lançaram a Carta de Intenções para a Saúde Mental de Foz de Iguaçu, que elenca vários pontos importantes para o fortalecimento do trabalho em Saúde Mental – desde questões sobre s formação, a assistência e o conhecimento, como nas questões relacionadas à pesquisa na área da Saúde Mental.

“Com a Carta pretendemos principalmente, garantir os direitos humanos”, finalizou Dorisdaia.

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