Enfermagem cuida de comunidade de MS com indígenas e entra na luta por água

Em meio à pandemia de Covid-19, enfermeira conta como é trabalhar para “evitar desastre”, buscando parcerias para garantir direitos básicos

19.04.2020

Viver em núcleos familiares grandes, sempre em proximidade, pode ser considerado um dos traços mais característicos do modo de vida da maioria das etnias indígenas. Imagine então como são próximas as relações familiares na Reserva Indígena do município de Dourados, onde a população de quase 17 mil habitantes reside concentrada em uma área demarcada de apenas 3,5 mil hectares.

Para quem não consegue imaginar, a enfermeira Indianara Machado Ramires descreve melhor. “São grupos muito grandes, que dividem moradias pequenas ou compartilham o mesmo terreno e erguem mais de uma moradia nele. As casas geralmente são bem perto umas das outras e as famílias têm vários membros, que se comunicam o tempo todo entre si e têm contato frequente com a vizinhança. A Reserva é como uma grande família”.

Indianara trabalha na Reserva onde nasceu e, agora, enfrenta o desafio de impedir a chegada da Covid-19 – Foto: Arquivo pessoal

Da etnia guarani-kaiowá e graduada em Enfermagem, aos 29 anos ela é uma das coordenadoras das seis equipes da Atenção Primária à Saúde do Polo Base Dourados do Distrito Sanitário Especial Indígena (Disei) de Mato Grosso do Sul, que abrange outros três municípios e suas comunidades indígenas: Rio Brilhante, Maracaju e Douradina. Foi na Reserva Indígena de Dourados onde ela nasceu e cresceu para abraçar a missão de melhorar a vida e cuidar da saúde de seus iguais, por meio da profissão que escolheu.

Indianara agora tem o desafio de atuar em meio à pandemia de uma doença altamente contagiosa como é a Covid-19, dentro da Reserva Indígena com a maior densidade demográfica do País – ou seja, com a mais mais numerosa concentração de pessoas por hectare.

Sua equipe, ela conta, orienta sobre prevenção adaptando protocolos às especificidades daquela cultura e monitora possíveis casos. Mas não é só isso. As comunidades têm problemas crônicos a serem tratados à frente, como o desabastecimento recorrente de água. “Buscamos evitar o desastre que seria ter casos de Covid-19 nesse contexto”, resume.

Como lavar as mãos sem água? – A principal recomendação neste momento é que todos lavem as mãos com frequência e corretamente para evitar a infecção pelo novo Coronavírus, conforme técnicas conhecidas entre os profissionais de saúde e difundidas no passado pela pioneira e célebre enfermeira inglesa, Florence Nightingale. Mas falta água, o item mais básico, para que os indígenas assistidos pelo Polo Base de Dourados adotem o hábito.

Reserva de Dourados é a que tem maior concentração de indígenas dentro de um único território no Brasil – Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Diversas vezes ao dia falta água encanada na Reserva Indígena de Dourados. É ainda pior nos acampamentos de beira de estrada, onde famílias indígenas vivem de forma precária, à espera de retomar áreas historicamente ocupadas por seus ancestrais. “Aí estamos falando de uma situação ainda mais crítica, onde não há saneamento básico e alimentos. Onde o Estado está ausente, e nós buscamos levar doações e prover os cuidados com a saúde daquelas pessoas, ao menos”, diz a enfermeira.

A coordenação do Polo Base Dourados está em contato com instituições e autoridades de Dourados e região para buscar alternativas e resolver o problema do desabastecimento de água. “Temos parceria com o Ministério Público e outras instituições de apoio, para as quais levamos as demandas das comunidades indígenas, inclusive a da água. Também temos conseguido fazer campanhas para obter recursos para um reservatório mínimo para eles”.

Trocas e movimentações dentro das aldeias – O sistema de trocas e vendas de alimentos movimenta a economia na comunidade e garante a subsistência de muitas famílias. Em razão da pandemia, a equipe de Indianara alerta para certos cuidados, adaptando protocolos e tentando evitar possível transmissão de vírus durante às saídas em busca do sustento. “Pedimos que as mulheres que vão à cidade para vender os alimentos, principalmente, evitem de levar as crianças, sempre que possível, e fiquem atentas ao distanciamento recomendado”.

Caso suspeito – Até o momento, apenas um caso suspeito foi notificado no Polo Base de Dourados e, após a realização de exames, foi descartado.

A enfermeira comenta que todos se empenham para evitar a circulação do novo Coronavírus nas comunidades. “Não temos Equipamentos de Proteção Individual, os EPIs, para todo mundo, mas estamos racionando e nos revezando com o que temos, para que ninguém trabalhe sem proteção e para que as populações indígenas que dependem do nosso trabalho não fiquem desassistidas em tempos de pandemia”, pontua. Uma remessa de EPIs deve chegar para a equipe em alguns dias.

Fiscalização do Coren-MS em unidades de saúde indígenas – De 2018 a 2020, o Departamento de Fiscalização do Coren-MS fiscalizou unidades de saúde de 15 aldeias indígenas em parceria com outros Conselhos Profissionais de Saúde. Leia mais detalhes aqui.

Os relatórios das fiscalizações realizadas foram enviados ao Ministério Público Estadual (MPMS), junto a denúncias sobre situações encontradas. O Coren-MS acompanha e monitora as medidas tomadas pelos órgãos responsáveis para resolver os problemas.

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