Enfermagem realiza ato histórico em homenagem aos mortos pela COVID-19

108 profissionais de Enfermagem já morreram no Brasil; ato destacou também a necessidade de melhoria das condições de trabalho

13.05.2020

Desta vez, o ato pacífico e silencioso não foi objeto de ataques de ódio

Ao cair da tarde desta terça-feira (12), 100 profissionais da Enfermagem se reuniram na área externa do Museu da República, em Brasília, para homenagear os 108 colegas que já perderam a vida na linha de frente do combate ao coronavírus. Nas costas, cada um trazia o nome de uma vítima e nas mãos, uma vela em homenagem aos mortos. Na medida em que os nomes eram projetados na cúpula do museu, um a um ia ao chão, até o momento em que todos ficaram deitados. No ponto alto da vigília, a emoção tomou conta da situação. Respeitando o distanciamento social, de máscaras, muitos profissionais foram às lagrimas, em silêncio.

O ato foi organizado pelo Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal (SindEnfermeiro-DF), Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (Sindate-DF), pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e Regional (Coren-DF). Os conselheiros federais Gilney Guerra e Antônio Coutinho, integrantes da diretoria do Cofen, e o presidente do Coren-DF, Marcos Wesley, acompanharam em silêncio a manifestação.

“A cada um que morre, você fica a pensar que o próximo pode ser você. Meus colegas foram deitando e, quando chamaram o nome que eu carregava, a sensação foi muito forte. Nunca vou esquecer o que senti naquele momento”, afirmou o presidente do Coren-DF. À imprensa, que cobria o ato, o conselheiro Gilney Guerra destacou a necessidade de valorização da categoria, que representa mais da metade dos recursos humanos em Saúde no Brasil.

O protesto também é uma forma de pedir melhores condições de trabalho. “A enfermagem já vem sofrendo com a falta de reconhecimento com ou sem pandemia. Mas, nesse momento, chamou a atenção por sermos profissionais da linha de frente e muitos estão perdendo vidas por causa dela. Mesmo assim está longe do reconhecimento ideal”, pontou a enfermeira Fabiana Sena à imprensa.

Nas redes sociais, milhares de internautas acompanharam a vigília em tempo real e se emocionaram com a homenagem. “Hoje meu primo está aí representado. Partiu lutando, socorrendo uma vida em uma ambulância. Meus sentimentos a todos os familiares que perderam entes queridos. Parabéns a todos os enfermeiros pelo dia e nesta batalha pela vida”, comentou Chris Carmem Costa.

Mortes na Enfermagem refletem avanço da pandemia, inadequação de EPIs e exposição indevida de profissionais integrantes de grupos de risco

Profissionais anônimos também se manifestaram nas redes, em sinal de apoio ao gesto de grandeza dos profissionais de Brasília. “Vocês nos fazem sentir visíveis, orgulhosos, valiosos. Estão na linha de frente e, mesmo assim, nos dias de descanso, propõem ir fazer homenagens aos colegas que foram abatidos pelo Covid-19”, elogiou a enfermeira Lara Bandeira.

“Sempre admirei o trabalho da enfermagem, não só agora na Pandemia. Fiz oito cirurgias ortopédicas e em todas elas Deus me enviou anjos. Pessoas que me ajudaram em cada cirurgia e que ainda hoje guardo em meu coração e estão sempre em minhas orações, principalmente agora, nesse momento tão difícil. O trabalho da enfermagem é muito desvalorizado. Mas que Deus os abençoe e cuide de cada um de vocês. Feliz dia dos enfermeiros. Não é um momento de comemorar, mas sim de agradecer por cada vida”, emendou Danny Barros.

A Enfermagem está morrendo, mas não é de hoje. Há muitos anos, jornadas exaustivas de trabalho, salários defasados e aposentadorias injustas deprimem e matam milhares de profissionais da categoria. Não obstante, a carga viral e emocional desta pandemia está fazendo ainda mais vítimas. Vidas que poderiam ser poupadas, se fossem tratadas com respeito. O país não pode continuar condenando à morte quem trabalha para salvar pacientes. Profissionais da Enfermagem não podem continuar a ir à guerra, sem armas para lutar e se defender

Enfermagem não se intimida – O ato, que transcorreu em respeitoso silêncio, retoma ação realizada no Dia 1º de Maio, na Praça dos Três Poderes. Na ocasião, a manifestação foi interrompida por ataque de apoiadores do presidente da República, que insultaram, cuspiram e filmaram a ação para intimidar os profissionais. O Cofen representou no Ministério Público e na Polícia Civil contra três agressores, identificados no vídeo. A autarquia também move ações na Justiça Federal para afastar profissionais integrantes de grupos de riscos da linha de frente do combate à pandemia.

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