Enfermeira recuperada da Covid-19 em Rondônia se torna exemplo de superação

“Como enfermeira peço para que as pessoas entendam a seriedade desta doença", afirma a enfermeira Lurdes

15.05.2020

Na semana em que foi celebrado o Dia do Enfermeiro, 12 de maio, a equipe do Hospital Regional de Cacoal (HRC) preparou uma surpresa especial para uma profissional que se tornou sinônimo de superação e inspiração, em meio à pandemia do coronavírus.

Lurdes Aparecida Silva Gonchorowiski tem 39 anos e desde 2010 é enfermeira do HRC. Mas sua história como servidora da saúde começou bem antes, em 2003, como técnica de enfermagem, atuando nos municípios de Pimenta Bueno, Cacoal e Primavera de Rondônia.

Todos os desafios que enfrentou ao longo de sua carreira, apenas a tornaram mais forte para encarar de frente uma doença que há alguns meses tem assustado milhões de pessoas em todo o mundo, a Covid-19. Como profissional da saúde, Lurdes sabia que uma hora ou outra poderia ter contato com a doença, imaginando que isso talvez fosse acontecer no atendimento a algum paciente. Mas não foi bem assim.

Lurdes se tornou a primeira cidadã da cidade onde reside a contrair a Covid-19 e isso não aconteceu por contato com nenhum de seus pacientes, a trajetória infelizmente foi bem mais triste. “Tudo começou a partir do momento em que fui acompanhar meu pai até Porto Velho. Ele tinha problemas sérios de saúde, em especial cirrose, e estava em estado grave, precisou buscar tratamento específico na capital do Estado. Por sete dias ele ficou internado no João Paulo e depois foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Samar. Infelizmente ele não resistiu, veio a óbito numa sexta-feira, dia 17 de abril”, conta.

Lurdes acredita que foi nesta ida à Porto Velho, em busca de tratamento para o pai, que faleceu devido a cardiopatia e hemorragia digestiva alta ocasionadas pela cirrose, que ela contraiu a Covid-19. A capital de Rondônia é hoje o principal foco da doença, com mais de mil casos confirmados.

“No domingo, dia 19, comecei a sentir dor no corpo e mal estar. Na segunda tive febre e na terça, que era feriado, comecei a ter tosse. Desde este dia, não saí mais de casa. Comuniquei os profissionais de saúde da secretaria municipal de Pimenta Bueno, fui atendida por um médico para avaliação de infecção por Covid-19 e segui todo o protocolo. Na unidade ainda foi realizado o teste rápido, mas deu negativo pois havia apresentado os primeiros sintomas apenas há quatro dias”, relata. Isso acontece, conforme explicou a própria enfermeira, porque os anticorpos só começam a ser produzidos em torno de sete a 11 dias depois da infecção e os exames, para confirmar a Covid-19, detectam justamente a presença destes anticorpos gerados pelo organismo para enfrentar o vírus. Anticorpos que costumam ser detectáveis com maior segurança a partir do sétimo dia de exposição à doença.

Com isso, o exame oficial de Lurdes foi coletado no dia 22 de abril e a confirmação do diagnóstico chegou dois dias depois, no dia 24. “O sentimento foi de desespero, de medo, pois tinha acabado de perder meu pai e me preocupava muito com as pessoas com as quais tive contato. Minha família, minha mãe, meus filhos, meu esposo, pois abracei todos quando cheguei na casa da minha mãe, vindo de Porto Velho. Mas antes mesmo de realizar o exame, eu já estava isolada, havia avisado a todos que estavam no velório que eu estava com sintomas. Permaneci isolada dentro do meu quarto, sem sair nem na cozinha e ninguém entrava no meu quarto. Minha filha e meu esposo colocavam a comida e a garrafa de água na porta”, lembra.

Dos familiares e pessoas com as quais teve contato, antes de apresentar os primeiros sintomas, Lurdes comemora que ninguém manifestou qualquer sintoma. “Graças a Deus já se passaram mais de 20 dias e ninguém manifestou nenhum sintoma. Eu também recebi todo o tratamento e passado o mínimo de 14 dias, agora posso dizer que estou curada”, comemora a enfermeira. Seguindo os protocolos médicos, um paciente é considerado curado da Covid-19 a partir do 14º dia ao não apresentar qualquer sintoma da doença. Além disso, o novo exame laboratorial feito por Lurdes no Laboratório Central de Rondônia (Lacen) confirmou a presença de anticorpos e a ausência do vírus.

Recuperada, Lurdes faz questão de endossar ainda mais o alerta para toda a população de sua cidade, Pimenta Bueno, de Cacoal, onde trabalha, e de todo o estado de Rondônia. “Como enfermeira peço para que as pessoas entendam a seriedade desta doença. Que parem de ficar aglomerados, usem máscaras, lavem as mãos sempre, usem álcool em gel, não visitem parentes, não viajem sem necessidade e se puder, fiquem em casa, pois os profissionais da saúde estão na linha de frente por vocês”, completa.

Aos que estão enfrentando a doença, Lurdes pede fé em Deus, na família e também nos profissionais da saúde. “Agora recuperada, digo para as pessoas que estão com a doença que tenham fé em Deus e que tomem os medicamentos direito, que sigam todas as orientações, que façam o isolamento correto. É muito importante proteger as pessoas ao nosso redor para que ninguém contraia o vírus. Eu agradeço a Deus e devo toda honra e toda Glória a minha família pelos cuidados e orações e agradeço também todos os profissionais que me deram assistência neste momento”, agradece a enfermeira que teve o apoio, a compreensão e todo o carinho dos profissionais da saúde e das pessoas próximas, especialmente do esposo Marcos, dos filhos Filipe, Danilo e Tamara e da mãe Cleusa.

Superando o preconceito – Sobre a maior dificuldade enfrentada por Lurdes neste período, muito mais que os sintomas da doença, esteve o preconceito e as falsas informações divulgadas através de canais como WhatsApp. “A maior dor pra mim foi na alma. Tive muitos problemas com pessoas que divulgaram coisas absurdas em redes sociais, sem conhecimento. Colocaram minha foto em grupos de WhatsApp. Ligavam na secretaria falando que me viram na rua e enquanto isso eu em casa, sem nem conseguir tomar um banho direito, para não colocar minha família em risco. Hoje, mesmo curada, eu tenho medo de sair na minha cidade pela reação que o ser humano pode ter. O medo que as pessoas criaram do vírus parece que as fazem esquecer que todos nós somos seres humanos. É preciso empatia. A doença existe, precisamos enfrentá-la, mas não se pode julgar. Eu fui para Porto Velho porque precisei, meu pai estava em uma situação de vida ou morte. Não se pode julgar. Precisamos sim nos cuidar, nos proteger, por isso quem puder fique em casa, mas não julguem os outros, isso é o mais importante”, destaca

De volta ao trabalho – Recuperada da Covid-19 e com os anticorpos presentes em seu organismo, Lurdes não pensou duas vezes e voltou ao trabalho no Hospital Regional de Cacoal nesta quarta-feira (13), um dia após a celebração internacional pelo Dia do Enfermeiro. Foi recebida com homenagens por sua equipe, com direito a aplausos, flores, música e mensagens de carinho. “Estou de volta, na linha de frente no enfrentamento ao coronavírus. Quero poder contribuir com pacientes, tanto no tratamento como sendo um exemplo de que é possível superar a Covid-19”, finalizou a enfermeira Lurdes Aparecida Silva Gonchorowiski.

Compartilhe

Outros Artigos

Receba nossas novidades! Cadastre-se.


Fale Conosco

 

Conselho Federal de Enfermagem

SCLN Qd. 304, Lote 09, Bl. E, Asa Norte, Brasília – DF

61 3329-5800 | FAX 61 3329-5801


Horário de atendimento ao público

De segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h

Contato dos Regionais