Glossário de linguagem indígena diminui a barreira cultural em atendimentos

Glossário da Linguagem Especial de Enfermagem para a Prática Junto a Povos Indígenas está disponível gratuitamente no CofenPlay

24.01.2024

 

No Brasil, há um baixo volume de material acadêmico para instruir enfermeiros quanto às particularidades do atendimento a indígenas. É o que avaliam Esron Soares e Francisco Cosme, autores do Glossário da Linguagem Especial de Enfermagem para a Prática Junto a Povos Indígenas no Contexto Amazônico. Com o lançamento, a dupla de estudiosos espera que um vocabulário particular contribua para adequar a abordagem clínica às demandas das comunidades.

Segundo o mestre em Enfermagem Francisco Cosme, o estudo propõe reconhecer a linguagem utilizada por enfermeiros durante atendimentos em variadas regiões. “Há uma deficiência de conhecimento cultural quando profissionais vão atender os indígenas de forma direta”, comenta.

O glossário serve para reduzir choques culturais. “A Universidade Federal do Amazonas (UFAM) tem saúde indígena em sua matriz curricular. Ainda assim, existe uma deficiência na formação do enfermeiro no atendimento a indígenas. Geralmente a formação tem uma base teórica muito superficial, falando um pouco do contexto político”, acrescenta.

Precariedade no trabalho – Com a produção do projeto também foi identificado que os profissionais inseridos nesses serviços permanecem a mercê de instrumentos pouco tecnológicos. “Quando o enfermeiro vai para a assistência direta, precisa carregar diversas caixas com prontuários físicos, que poderiam ser facilitados com tablets ou notebooks”, relata Francisco.

Outro problema é a carência de infraestrutura para os profissionais, que ficam por volta de 20 dias em cada base de atendimento. “O enfermeiro é muito administrativo, por conta da sobrecarga de produzir e registrar. Acaba que a assistência fica em segundo plano. Muitos profissionais relatam ter atendido sob árvores ou outros locais disponíveis”, destaca.

Pioneirismo – A obra faz parte de um projeto pioneiro no Brasil, com a intenção de desenvolver um subconjunto terminológico da prática da enfermagem junto aos indígenas. “Existe uma demanda para que os cuidados sejam adequados a população e o seu modo de vida. Sensível às características socioculturais e às necessidades de cada população”, explica o coautor Esron Soares, especialista em saúde indígena pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

O professor ainda identifica a dificuldade para que as comunidades em locais mais remotos tenham acesso a serviços de saúde. Essa realidade faz com que indígenas estejam mais vulneráveis a doenças infectocontagiosas. “O glossário pode contribuir para que, no futuro, os diagnósticos e intervenções sejam adequados a população indígena. E os profissionais reconheçam a sua própria linguagem, assim como padronizar essa comunicação intercultural”, acrescenta.

O glossário foi feito com a orientação da professora Márcia Regina Cubas e apresentado no congresso brasileiro de enfermagem do Rio de Janeiro, em 12 de dezembro, o que trouxe mais visibilidade para a produção de conhecimento indígena produzido no Amazonas. Agora, ele está disponível para leitura gratuita por profissionais de Enfermagem, no aplicativo CofenPlay.

O coordenador da Comissão Nacional de Enfermagem e Saúde Intercultural (Conenfsi), Paulo Murilo de Paiva, pondera que o material é necessário para ampliar o acolhimento, a qualidade e a cientificidade na prática da saúde indígena. “O Conenfsi foi criado com a certeza de atuar onde há vulnerabilidade, dando visibilidade, autonomia e empoderamento aos profissionais que desempenham suas atividades profissionais Brasil a fora”, defende Paulo. “No momento que assistimos a apresentação deste material, constatamos o impacto positivo que ele trará para a Enfermagem brasileira”.

Fonte: Ascom/Cofen

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