Hipertensão gestacional: Como enfermeiras podem prevenir mortes

Nota técnica publicada hoje, 14/2, recomenda suplementação universal de cálcio na gestação, da 12ª semana até o parto, para prevenção de síndromes hipertensivas, principal causa de morte materna no Brasil.

14.02.2025

A pressão deve ser aferida e registrada em todas as consultas pré-natais. 

O nascimento prematuro e morte da bebê Sofia, filha da cantora Lexa, tocou os brasileiros. Síndromes hipertensivas na gestação — como a pré-eclampsia, enfrentada por Lexa — são a maior causa de mortalidade materna no Brasil e uma das principais causas de prematuridade. Na maioria das vezes, podem ser prevenidas. A atuação qualificada da Enfermagem obstétrica no pré-natal identifica riscos e inicia a profilaxia antes mesmo de manifestação clínica da hipertensão.

Nota técnica do Ministério da Saúde, publicada hoje, 14/2, recomenda a suplementação universal de cálcio na gestação, a partir da 12ª semana, e reforça o papel dos enfermeiros na Atenção Primária à Saude (APS). Recomenda-se a prescrição de dois comprimidos de carbonato de cálcio de 1250 mg (500 de cálcio), o equivalente a 1000 mg de cálcio elementar. O suplemento pode ser prescrito por enfermeiros, médicos e nutricionistas.

“Uma anamnese adequada, na consulta de Enfermagem, é crucial. Observamos o histórico familiar, história pregressa de pré-eclâmpsia, comorbidades (doença renal, autoimune, hipertensão crônica, diabetes) e fatores de risco da gravidez atual, como obesidade (IMC>30), gestação decorrente de reprodução assistida, nuliparidade e intervalo maior que 10 anos da última gestação, idade (35+).”, afirma a enfermeira obstétrica Gabriela Giacommi, integrante da Câmara Técnica de Enfermagem em Saúde da Mulher do Cofen. 

“Conforme a orientação da Rede Brasileira de Estudos sobre Hipertensão na Gravidez (RBEHG), as mulheres com um fator de risco alto ou dois fatores moderados têm recomendação de uso de cálcio e AAS, que podem ser prescritos por enfermeiros, além de exercício físico e mudanças na alimentação”, explica a enfermeira. Confira os fatores de risco e sua classificação no protocolo 01/23 da RBEHG.

830 mulheres morrem a cada dia de causas evitáveis relacionadas a gestação e parto, em todo mundo. 99% dessas mortes ocorrem em países em desenvolvimento, segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde. No Brasil, a mortalidade materna é fortemente associada a determinantes sociais, como renda e raça.

“A Enfermagem, com seu olhar abrangente e foco na promoção da saúde, tem a capacidade de transformar essa realidade. A prevenção, identificação precoce e intervenção adequada são chaves para evitar mortes maternas e garantir um futuro mais seguro para mães e bebês”, afirma o conselheiro federal Renné Costa, coordenador da Câmara Técnica de Enfermagem em Saúde da Mulher do Cofen.

 

Cantora Lexa foi internada com pré-eclâmpsia e teve parto prematuro (Arquivo Pessoal/instagram)

Como identificar hipertensão na gravidez? E o que fazer?

Identificar corretamente a hipertensão na gravidez é o primeiro desafio. A pressão deve ser aferida e registrada em todas as consultas pré-natais. Uma gestante é classificada como hipertensa se a pressão igual ou superior a 140×90 mmHG em duas medições distintas, com intervalo de 4 horas. A pressão deve ser aferida com a gestante sentada, pés e costas apoiados e com mangusto apropriado.

“Basta a persistência da alteração em um dos valores“, ressalta a enfermeira Gabriela Giacommi. A conduta a ser adotada depende de avaliação médica, podendo incluir medicamentos anti‑hipertensivos, além de outras orientações.

Aumento da pressão arterial após a 20ª semana também exige atenção e encaminhamento. Embora a pré-eclâmpsia seja mais frequente após 37 semanas, manifestações precoces, como aconteceu com Lexa, já podem ser observadas por volta da 20ª semana gestacional. 

Alterações de pressão arterial devem ser acompanhadas com rigor, e os casos de maior gravidade demandam assistência imediata. “Gestantes em crise hipertensiva, com pressão igual ou superior a 160×111 devem ser encaminhadas imediatamente para maternidades ou hospitais para sulfatar. É fundamental administrar sulfato de magnésio imediatamente, antes mesmo da aplicação de hipotensores, pois evita convulsão e confere proteção neural ao feto”, explica Gabriela.

A pré-eclâmpsia é uma síndrome grave, multifatorial, diagnosticada pela hipertensão arterial a associada a proteinúria ou disfunção de órgãos-alvo. A condição nem sempre indica antecipação do parto. Nos casos em que a cesariana for indicada, é preciso estabilizar a gestante antes da cirurgia. Confira protocolo 03/23 da Rede Brasileira de Estudos sobre Hipertensão na Gravidez.

Registre sua especialidade

O registro de especialidade em Enfermagem Obstétrica é isento de taxas e deve ser feito no respectivo Conselho Regional de Enfermagem (Coren). O registro é importante tanto para o dimensionamento das políticas públicas quanto para a ampliação da rede credenciada na Saúde Suplementar. A assistência à gestante, o acompanhamento do trabalho de parto e a execução do parto sem distócia estão entre as atribuições dos enfermeiros enquanto integrantes das equipes de Saúde, conforme o artigo 11 da Lei 7498/86. Os enfermeiros obstétricos e obstetrizes, especialistas em parto normal, têm autonomia profissional na assistência, conforme o artigo 9º do decreto 94.406/87.

Fonte: Ascom/Cofen - Clara Fagundes

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