Hospitais têm superlotação, déficit de profissionais e medicamentos vencidos

Leia, na íntegra, reportagem do Diário de Cuiabá sobre operação da Força Nacional de Fiscalização no estado

31.01.2019

Dezesseis unidades hospitalares localizadas em Cuiabá, Várzea Grande e Sinop passam pela maior operação de inspeção da Força Nacional de Fiscalização dos Conselhos Federal de Enfermagem (Cofen) e Regional de Mato Grosso (Coren/MT). Os fiscais verificam questões relacionadas ao exercício profissional que colocam em risco a assistência prestada ao paciente, como o exercício ilegal e irregular da enfermagem, além de verificar o dimensionamento de pessoal, as condições de trabalho e de estrutura.

Quinze fiscais de diversas regiões participam da operação, que prioriza instituições de grande porte que acumulam denúncias de irregularidades. Entre as unidades já fiscalizadas estão os prontos-socorros de Cuiabá e Várzea Grande, além do Hospital Regional de Sinop (503 quilômetros, ao norte da capital). Nesses locais, os problemas encontrados são vários.

No pronto-socorro da capital as irregularidades passam por superlotação de pacientes, inclusive, com pessoas internadas nos corredores, e na emergência. Neste último caso, a sala que tem capacidade para 22 pacientes está com 80 e apenas dois enfermeiros e quatro técnicos de enfermagem para prestar assistência. “Há pacientes há mais de três dias sem fazer curativo devido à sobrecarga de atribuições dos profissionais de enfermagem, ocasionando riscos à saúde dos pacientes”, informou o Coren/MT.

Também foi detectada insuficiência de materiais básicos como suporte para frasco de soro, medicações vencidas no carro de urgência da sala amarela, atropina vencida na sala de sutura/sala vermelha, paciente grave sendo atendido em maca baixa por falta de leitos, estrutura física precária, falta de materiais para a assistência, de medicamentos, inexistência de registros de enfermagem e de enfermeiro onde são desenvolvidas as atividades de enfermagem na unidade de queimados, além de auxiliar de enfermagem executando atividades de assistência a paciente grave.

Já em Várzea Grande, por exemplo, a equipe encontrou medicações vencidas nas unidades de tratamento intensivo (UTI) desde dezembro do ano, medicações sem identificação da data de abertura, colocando em risco a assistência prestada, materiais com esterilização vencida desde 26 de dezembro passado, outros materiais sem identificação da data de esterilização, soro sem identificação na grande ala cirúrgica, falta de sabão para lavagens de mãos e álcool gel e déficit de profissionais da limpeza ocasiona condições precárias de higiene no bloco “A”.

No hospital de Sinop foi constatado déficit de profissionais, o número de atendimentos foi reduzido de 400 cirurgias para 200, atendendo somente emergência. “Normalizaram o abastecimento de medicamentos, insumos e materiais, mas há dois leitos de UTI adulto inativados por falta de equipamentos”, frisa. Outros apontamentos são de rachadura em parede da Central de Material Esterelizado (CME) e o repouso da enfermagem que unissex (com exceção da UTI), não oferta rouparia, sendo que os profissionais precisam trazer lençóis de casa.

Ontem, foram inspecionados o Hospital São Benedito, Complexo Hospitalar Jardim Cuiabá, ambos na capital, UPA Ipase e Hospital São Lucas, em Várzea Grande, e o Hospital Santo Antônio de Sinop. O apoio da FNFIS foi solicitado pelo Coren-MT, parceiro da operação. “O objetivo da Força Nacional de Fiscalização é assegurar que todos os regionais tenham condições necessárias para cumprir sua missão de fiscalizar o exercício profissional de Enfermagem, garantindo condições de assistência”, explica o presidente do Cofen, Manoel Neri.

Atuam no Mato Grosso 27.752 profissionais de Enfermagem, que prestam assistência a 3,5 milhões de pessoas. São 5.372 enfermeiros; 12.003 técnicos e 2.630 auxiliares de Enfermagem. No ano passado, entre os meses de agosto, setembro de outubro, o Coren-MT fiscalizou 133 unidades de saúde, entre públicas e privadas, e empresas de home care, em 21 municípios. No primeiro semestre daquele ano, a fiscalização esteve em 29 cidades desde a Baixada Cuiabana até o extremo norte do Estado, na divisa com o Tocantins e, em 156 averiguações, foram constatadas 300 irregularidades.

A ausência de enfermeiro nas unidades foi uma das irregularidades mais comuns. Também são encontrados problemas de ordem administrativa, como a inexistência ou inadequação de Manual de Normas e Rotinas, de regimento interno de enfermagem, de quadro de escalas e o preenchimento incorreto de documentos, que leva à falta de informações suficientes sobre a assistência. A insuficiência de profissionais também foi constatada, em 2018, em 12 serviços de diálise e hemodiálise de todo o Estado.

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