Meditação Mindfulness: profissionais de Enfermagem relatam experiências

Cada vez mais aceita como uma das mais eficientes técnicas de tratar o stress, meditação da ‘atenção plena’ é instrumento para cuidar de lideranças da categoria, que relatam experiências

30.07.2024

A pandemia de covid-19 trouxe uma atenção e um interesse inéditos para condições de saúde mental em todo o mundo. Na linha de frente do combate à doença, com longas jornadas, exposição constante aos vírus, desvalorização profissional e baixos salários – o que intensifica o risco de adoecimento mental na profissão – a Enfermagem tem um potencial especialmente importante para males psicológicos, como a ansiedade, no ambiente laboral. O Brasil é visto pela Organização Mundial da Saúde como um dos países com maior prevalência de ansiedade relativa à população total (mais de 9%).

Revisão sistemática de estudos recentes demostrou uma especial eficácia da técnica desenvolvida nos anos 1970 nos Estados Unidos a partir de preceitos budistas, mas sem orientação religiosa. Mindfulness, ou atenção plena, tem como foco a escuta do próprio corpo, “pausar” para uma respiração profunda e foco na escuta do próprio corpo e dos pensamentos. Esta prática tem resultados de redução drástica do stress e ansiedade especialmente bem-sucedidos entre os profissionais do cuidado. O artigo completo sobre a efetividade da técnica (em inglês) pode ser lido aqui. 

Foi em 2020, plena pandemia, que a enfermeira e especialista em Saúde Mental Cintia Menezes começou experiências com equipes multidisciplinares em UTIs de referência no tratamento do vírus. Cintia conta que desde então tem atendido profissionais da Enfermagem, incluindo gestores e diretores, utilizando mindfulness como forma de manejo do stress. A cultura Ocidental algumas vezes pode ser um obstáculo. “É difícil que encontremos tempo dentro da rotina para uma sessão adequada de meditação. Temos uma orientação para soluções práticas, mas muitas vezes o essencial não é mensurável”, definiu.

Sua prática tem encontros mensais e incluiu o tratamento de profissionais de liderança com o mindfulness. Eles entraram em contato com suas fragilidades e potenciais através da meditação e dividem a seguir com o portal do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) suas experiências:

Sabrina Almeida

Sabrina Almeida, diretora de Enfermagem do Hospital Estadual de Diadema

 “Concluí minha graduação em Enfermagem em 2003 e foi paixão desde a primeira aula pela saúde mental e a psiquiatria.  Tive uma atuação por diversas áreas, hospitais especializados no tratamento de dependências químicas e no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

Um marco especial da carreira foi a promoção para a gerência do CAPS. Num primeiro momento resisti, procurei a chefia imediata dizendo que não queria o cargo, que não estava feliz porque minha vocação era o cuidado. A resposta transformou a forma como penso. ‘Você continuará no cuidado, mas agora será cuidando de quem cuida.’

O mindfulness me ajudou a tomar decisões mais conscientes no ambiente de trabalho. Se espera do gestor a resposta mais rápida e assertiva possível, mas com mindfulness aprendi a ouvir melhor, a pensar junto e desta forma tomar decisões mais conscientes. Escutar ao outro e a si mesmo antes de partir para a ação.”

Wueslim Robison, supervisor de Educação Continuada de Enfermagem, Hub de Crack e Outras Drogas das SPDM

“Quando ouvi pela primeira vez as palavras de Cintia não esperava me sair bem. Trabalhando em um contato diário com dependentes químicos na Cracolândia, a exposição aos dramas humanos é bastante constante e intensa. Acabei perdendo contato com minhas próprias questões.

Estava constantemente atribulado quando iniciei no mindfulness. Fui atingido como uma flecha. Pude finalmente identificar a origem dos problemas, não conseguia parar de chorar. Entendi finalmente minha dimensão humana e a possibilidade de falha dos relacionamentos.

Quando sinto culpa hoje me recordo desta experiência lembro e me sinto novamente alegre e confiante. Sempre que preciso estudar e me concentrar lembro daquele dia. Não sei se a Cintia sabe o quanto sou grato.”

Nelsina do Carmo

Nelsina do Carmo, gerente de Enfermagem do Centro de Reabilitação Lucy Montoro, em São José dos Campos

“Participar da meditação mindfulness fez minha vida pessoal e profissional ganhar mais qualidade. No trabalho, fez refletir sobre todas minhas ações como líder de equipe, parceira de trabalho e também na minha atuação direta com o paciente, pois trouxe o entendimento importante que todas as pessoas tem histórias de vida, experiências que levam consigo e nós não sabemos das suas dores e angústias, que por vezes julgamos sem nada saber ou observar. 

Esse entendimento me trouxe uma necessidade de maior capacidade de observação de cada situação e, também, de um maior autoconhecimento.  No ano de 2022 passei por uma mudança importante na rotina de trabalho, um período de grande tristeza.  Tive atendimento individual da enfermeira Cíntia e isso fez uma diferença imensa na diminuição dos meus níveis de stress, ansiedade e tristeza.

Hoje experimento menos sentimento de culpa e menor sensação de impotência diante do problema. Possuo entendimento para lidar com os momentos de grandes dificuldades, sejam essas pessoais ou profissionais. São momentos muito leves e proveitosos, os que temos contato com a meditação.”

Fonte: Ascom/Cofen - Hermano Freitas

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