No AM, técnica de enfermagem indígena é voluntária na luta contra a covid

Em seu tempo livre, a profissional atende pacientes suspeitos em sua comunicade

11.05.2020

Vicente Piratapuia, 69, da tribo Piratapuia, estava com febre alta e dificuldade para respirar, mas se recusava a deixar seu lar na periferia da maior cidade da floresta amazônica.

Foi preciso uma fala dura de uma enfermeira em sua comunidade para convencê-lo de que ele morreria caso se recusasse a ir com ela para um pronto-socorro.

Vanda usa uma máscara com o slogan “Vidas Indígenas Importam” enquanto veste o equipamento de proteção antes de sair de casa. Imagem: Bruno Kelly

Vanderlecia Ortega dos Santos, ou Vanda para seus vizinhos, se ofereceu como voluntária para prestar o único atendimento de linha de frente à sua comunidade indígena de 700 famílias e enfrentar a epidemia de Covid-19 que atinge Manaus.

É uma batalha. A comunidade de descendentes de 35 tribos diferentes, chamada de Parque das Tribos, carece de água tratada, esgoto e eletricidade na maioria dos lares.

Ambulâncias regularmente se recusam a buscar os doentes mais graves, pois não há posto de saúde público nas proximidades.

Indígenas no limbo – À medida que a pandemia de coronavírus começou a se alastrar pelo Brasil, os indígenas que vivem nas cidades ou seus arredores se viram pegos em um limbo perigoso. A Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) voltou seus recursos àqueles que vivem nas reservas indígenas.

Vanda examina seu paciente, Vicente Piratapuia, enquanto a esposa dele, Apolonia Antonia Baré, observa, na casa deles. Imagem: Bruno Kelly

A Sesai relatou dez mortes de indígenas por Covid-19 em terras nativas, mas a associação nacional Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) estimou nesta semana a morte de pelo menos 18 indígenas brasileiros se os óbitos em áreas urbanas forem contados. O número real de casos em aldeias frequentemente remotas por todo o vasto interior do Brasil é difícil de levantar.

“Nosso pessoal está morrendo desta doença e não estão sendo reconhecidos como indígenas pelo estado e pela Sesai”, afirmou Vanda, enfermeira voluntária.

A Sesai disse que os indígenas que vivem em cidades devem usar o serviço público de saúde .

Uma porta-voz do prefeito de Manaus disse que a saúde indígena é de alçada federal e não responsabilidade da prefeitura.

Manaus, que está sofrendo uma das mais mortíferas epidemia de covid-19 per capita no Brasil, vê a doença sobrecarregar hospitais, cemitérios e a capacidade das autoridades de contar os mortos.

Ajuda no tempo livre – Vanda, 32, nasceu na aldeia rural de Amatura e se mudou há dez anos para Manaus, onde se formou como técnica em enfermagem. Ela trabalha tratando de pacientes de câncer de pele em uma clínica da cidade.

Mas desde o início da epidemia, ela está usando seu tempo livre para fazer visitas em domicílio em sua comunidade, monitorando potenciais sintomas de covid-19 por meio do grupo criado por ela no WhatsApp.

Vanda injeta dipirona em sua paciente, Sabrina de Sales Benzaquem, uma manicure e pedicure de 34 anos, que teve febre e há suspeita de ter a covid-19. Imagem: Bruno Kelly

Nesta semana, ela está monitorando cerca de 40 casos suspeitos de coronavírus. Ela encaminhou cinco pessoas em estado sério para os serviços de emergência, incluindo uma idosa que teve que ser levada de carro por falta de ambulância.

Vanda dá analgésicos a seus pacientes e outros medicamentos básicos, fornecendo ao mesmo tempo orientações sobre como limitar o contágio. Ela faz as visitas em domicílio usando avental, luvas e máscara como proteção, às vezes com um cocar uitoto tradicional feito de penas de arara.

Falta de alimentos – A fome atingiu a comunidade antes do vírus, ela disse. As medidas impostas de distanciamento social para desacelerar o avanço da epidemia atingiram duramente a economia local e eliminou a renda tanto das mulheres que fazem artesanato ou trabalham como empregadas nos lares em Manaus, quanto dos homens que trabalham em canteiros de obras.

“Como carecemos de assistência pública, eu tomei a iniciativa de começar uma campanha nas redes sociais para receber doações de alimentos e kits de higiene”, disse Vanda.

Ela também iniciou uma oficina na casa de sua mãe, onde as mulheres costuram máscaras de pano para a comunidade, produzindo 30 por dia em uma única máquina de costura.

Vanda conversa com Robson, o chefe da Sesai, enquanto participa de um protesto durante a visita oficial do ministro da Saúde, Nelson Teich, ao principal hospital da cidade, o Delphina Rinaldi Abdel Aziz. Imagem: Bruno Kelly

Quando o ministro da Saúde visitou Manaus nesta semana, Vanda e duas amigas o receberam com um protesto do lado de fora do principal hospital da cidade, exigindo atenção médica para os indígenas.

Ela e duas outras mulheres usavam máscaras feitas pela mãe dela, exibindo a frase “Vidas Indígenas Importam”.

A manifestação resultou em uma reunião com o chefe da Sesai, Robson Santos da Silva, que disse que um hospital de campo em Manaus, prometido pelo governo federal, teria uma ala para pacientes indígenas com coronavírus.

Mas um porta-voz do ministério disse que a construção do hospital de campo aguardará enquanto o governo se concentra primeiro na expansão das instalações existent.

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