Pela primeira vez na história, enfermeiro é agraciado com o Prêmio Jovem Cientista

Darlisson Ferreira é doutor em Enfermagem, tem mais de 50 artigos publicados e mais de 70 orientações acadêmicas. Ele venceu o prêmio na categoria ‘conectividade e inclusão digital’. “Não existe produzir conhecimento sobre nós, sem nós, amazônidas”, ressalta o pesquisador.

18.02.2025

O doutor em Enfermagem Darlison Ferreira

O Prêmio Jovem Cientista foi entregue a um enfermeiro pela primeira vez na história. Estamos falando do doutor em Enfermagem Darlisom Ferreira, um docente que há mais de 15 anos se dedica à pesquisa, ao ensino e ao desenvolvimento da profissão nas regiões amazônicas. O profissional participou ativamente do processo que resultou na criação do primeiro doutorado profissional de Enfermagem na Região Norte do Brasil, com financiamento por meio do convênio entre o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e o Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

Darlisom Ferreira ganhou o prêmio na categoria conectividade e inclusão digital. “A Enfermagem, por meio da educação pública, me proporcionou de tudo na vida. Ingressei na UEA, fui coordenador de curso, diretor de unidade, pró-reitor e, hoje, jovem cientista. Expresso minha gratidão ao reitor André Zogahib e, em seu nome, aplaudo os investimentos públicos em pesquisas e políticas voltadas aos povos indígenas, do campo, da floresta e das águas. Que os resultados de nossas investigações retornem sempre a esses atores sociais, fortalecendo a qualidade de vida e promovendo justiça social”, discursou.

A 30ª edição do Prêmio Jovem Cientista é uma iniciativa do CNPq, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, com o apoio de mídia da Editora Globo, do Canal Futura e patrocínio da Shell. Há mais de 40 anos, o Prêmio Jovem Cientista revela talentos, impulsiona a pesquisa no país e investe em estudantes e jovens pesquisadores que procuram inovar na solução dos desafios da sociedade brasileira.

“Darlisom merece nosso respeito e reconhecimento, pois chegou a um lugar novo para nós. A conquista desse jovem cientista inspira toda uma geração de novos estudantes, profissionais, pesquisadores e cientistas, que estão rompendo as fronteiras do conhecimento e desenvolvendo soluções para os problemas complexos que enfrentamos hoje. A Enfermagem brasileira se faz respeitar por esses caminhos e ganha cada vez mais projeção científica no país e no mundo com essas conquistas, que transcendem a esfera individual e beneficiam toda a sociedade”, considera o presidente do Cofen, Manoel Neri.

A primeira edição do Prêmio Jovem Cientista aconteceu em 1981, com o tema “Telecomunicações”. Desde então, a cada edição do Prêmio Jovem Cientista é indicado um tema importante para o desenvolvimento científico e tecnológico, com prioridade nacional, que atenda às políticas públicas do governo federal e seja de relevância para a sociedade brasileira.

De acordo com a premiação, a indicação de Darlisom Ferreira ao título na categoria Mérito Científico é resultado de sua qualificação, experiência, capacidade de formação de pesquisadores e produção científica, especialmente em áreas relacionadas à “Conectividade e Inclusão Digital”. 

Trajetória

Depois de trabalhar por dez anos em campo, como enfermeiro na rede de saúde básica e plantonista em unidades de terapia intensiva, Ferreira aproximou-se, pela primeira vez do desenvolvimento de tecnologias educacionais ao iniciar o mestrado em Educação no Centro de Ciências Sociais e Educação da Universidade do Estado do Pará (CCSE/ UEPA). O mestrado, concluído em 2010, despertou no enfermeiro, natural de Santarém (PA), a paixão pela Educação.

“Minha aproximação com o campo do desenvolvimento de tecnologias educacionais nasce no mestrado, há cerca de 15 anos, e atravessa toda minha produção científica e trajetória acadêmica”, diz Ferreira, que tem mais de 50 artigos publicados e mais de 70 orientações, entre iniciação científica e pós-graduação lato e stricto sensu.

Darlison e a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos
Darlison e a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos

Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem em Saúde Pública (ProEnSP) e coordenador local do Doutorado Interinstitucional em Enfermagem UFSC-UEA, Ferreira gosta mesmo é de ser reconhecido como um educador empático, gestor educacional agregador, professor com vocação de mediador e adepto do educador e filósofo Paulo Freire.

A bagagem de empatia acompanha Darlisom desde a atuação na rede básica de saúde como enfermeiro da Estratégia Saúde da Família (ESF) de Manaus. Numa das unidades, Ferreira inconformado com a baixa procura pelo exame Papanicolau, ou preventivo, fundamental para o diagnóstico de câncer, por exemplo, uma vez que detecta alterações nas células do colo do útero. “Resgatei o dia do preventivo na unidade e fui para a sala de espera conversar com as pacientes para escutar o que elas sabiam, e o que gostariam de aprender sobre o exame. Ouvi atentamente cada uma delas e expliquei detalhadamente com um manequim anatômico, como funcionava a coleta do exame e qual a importância de sua realização periódica. Um mês depois, tinha fila de espera na unidade para fazer o preventivo”, lembra.

Com o dom de valorizar a escuta, Ferreira, que é doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), enxerga a comunicação com o olhar sobre a necessidade e o empoderamento do interlocutor. “Gosto de pesquisa-ação, pesquisa participante, metodologias grupais e, a partir delas, produzir conhecimento pautado nas necessidades (e problemas) dos participantes. Faço algumas pesquisas quantitativas, mas minha paixão é a pesquisa qualitativa, participativa com os sujeitos (para eles e com eles)”, afirma.

O caráter inclusivo, uma constante na linha de pesquisa de Ferreira, é explícito em um dos seus trabalhos mais relevantes, sua tese de doutorado, defendida em 2019 no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC, intitulada: “Práxis educativa de enfermeiros na Estratégia Saúde da Família: Do real conceptualizado à inovação tecnológica” propõe um marco conceitual e a prototipação de um aplicativo móvel para a práxis educativa de enfermeiros na Estratégia Saúde da Família.

“Na minha linha de atuação, que é o desenvolvimento de tecnologias sociais e educacionais no campo da Educação em Saúde, não existe produzir conhecimento sem dar lugar de fala aos trabalhadores, aos povos tradicionais, aos quilombolas. Não existe produzir conhecimento sobre nós, sem nós, amazônidas”, ressalta o pesquisador.

Um exemplo é o programa de extensão Ajuri, que envolve o uso de tecnologias relacionais com povos indígenas que vivem na periferia de grandes cidades, como Manaus. “Vejo muitas soluções com tecnologias mas muito parametrizadas, mas com pouca personalização. É preciso produzir conhecimento com uso da tecnologia que faça sentido para os participantes da pesquisa”, destaca Ferreira.

Ainda no âmbito de programas de extensão, Ferreira criou há mais de cinco anos o programa Espia Só, com o desenvolvimento de tecnologias audiovisuais focadas na promoção da saúde e qualidade de vida. Desde o início do programa, a produção audiovisual do Espia Só é difundida em redes sociais, um canal no YouTube e Instagram. “Trabalhamos as tecnologias educacionais audiovisuais com ênfase na coletividade, inclusão social e combate a desinformação em saúde, difundindo o conhecimento científico por meio de vídeos em plataformas digitais. A tecnologia ganha corpo quando é feita de forma participativa”, afirma Ferreira.

Na visão do pesquisador, tecnologias precisam atender às necessidades e demandas da sociedade. Para ele, a inclusão não existe se não houver, de fato, predisposição à escuta.

Fonte: Ascom Cofen

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