Uma doutora do cuidado a serviço da profissão

 Perfis da Enfermagem: Conheça, a cada quinzena, a história de um dos dirigentes do Cofen

13.09.2021

Férias com a família e amigos, no interior da Paraíba, na década de 1970

Uma reanimação por respiração boca-a-boca em que não se podia contar com desfibrilador. Sem ambulância, a imobilização de um acidentado podia ocorrer sem colar cervical e outros materiais essenciais. Enquanto tinha a vida de um paciente nas mãos, a falta de equipamentos era uma rotina no trabalho para a enfermeira paraibana Betânia Maria Pereira dos Santos, presidente do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

No atendimento pré-hospitalar, durante os anos 1990, o improviso era obrigatório, mas a falta de equipamentos não impedia que o melhor cuidado possível fosse dispensado a seus pacientes. A vocação para o cuidado e sede de conhecimento vinha desde a infância. “O cuidado, que é a característica que torna a Enfermagem a profissão mais humana de todas, sempre esteve presente. Desde criança, a importância com o cuidar se estendeu à família e amigos, e quando adulta, à minha profissão (pacientes e alunos) e ao meu filho, Daniel”, conta Betânia.

Na década de 1990, Betânia coordenava UBS. Campanhas sobre higiene e vacinação eram realizadas em escolas.

Quinta filha de seis irmãos em uma família fundada por um pai carteiro e uma mãe dona de casa, Betânia cresceu no bairro da Torre, em João Pessoa. Ter os pais próximos diariamente foi sua alegria. “Sempre tive o incentivo dos meus pais para priorizar o estudo e a busca pelo conhecimento. Foi por eles acreditarem e investirem na minha educação que consegui me graduar, especializar, e chegar aonde estou hoje”, resume.

O ambiente era amoroso, mas disciplinado. Teresinha, com fibra, centralizava na época e segue centralizando as atenções da família. Impunha suas ideias, intenções, desejos. “Ai de quem não fizer sua vontade”, brinca. A brincadeira com os irmãos caracterizou a infância, lançando as bases também para um espírito profundamente comunitário. Os pais ensinaram a ter empatia uns com os outros e Betânia levou isso para a vida.

Com seus pais, Teresinha e Walto, durante formatura da graduação em Enfermagem

As dificuldades não impediram o transcorrer de uma infância que ela considera feliz. Desde muito cedo, o estudo ocupou posição de destaque na sua vida. “Sempre acreditei na capacidade de transformação social da educação. Dedicação e esforço não faltaram, e assim consegui passar por todo o período escolar tranquilamente”, recorda.

As férias escolares eram passadas em uma propriedade rural da família, na qual seu irmão Romero cometeu a suprema traquinagem de abrir a cerca do curral para permitir a fuga do gado. Tais recordações ainda provocam gargalhadas na ocasião em que se reúnem.

Concursado como carteiro, o pai sustentava a grande família como podia. Isso não o impedia de presentear a filha, a cada 15 dias, com um novo exemplar da coleção “Obras-Primas”, da editora Abril Cultural, que ela guarda até hoje e trata como uma “herança preciosíssima”. A perda do pai para um Acidente Vascular Cerebral no ano de 2007 a marcou profundamente.

Com alunas, quando lecionava na faculdade Santa Emília, em 1997. A docência tem um local especial em sua vida

Desde a adolescência, sentiu o chamado da Enfermagem. Ingressou na faculdade aos 18 anos e, ao mesmo tempo em que se educava, dava aulas de Ciência e Biologia, uma verdadeira paixão. Quem a conhece destaca como uma de suas maiores qualidades o dom da escuta e, durante o curso superior, aprimorou esta habilidade. Religiosa, descreve a solidariedade como um dos melhores sentimentos que pode experimentar. “Eu me sinto mais feliz doando do que mesmo recebendo. Creio em um Deus todo poderoso e que nada se constrói sem a ajuda d’Ele. Sou devota de Maria santíssima, a sua e nossa mãe”, conta.

Após a conclusão da licenciatura em Enfermagem na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no ano de 1988, seguiu se aprimorando na assistência e na docência. “A sintonia desses dois campos em minha vida contribuiu para minha formação e desenvolvimento, visto que a vivência prática da Enfermagem me auxiliava na hora de ministrar aulas e passar exemplos com maior propriedade. Já a minha experiência como professora me impulsionava a estudar e me qualificar cada vez mais na minha atuação”, define.

Ação pela valorização profissional, durante a Semana da Enfermagem, na Paraíba

No ano de 1996, casou-se e teve o único filho, Daniel, a quem descreve com generosidade. “Meu filho é um ser iluminado, me fez entender o que significa o amor responsável e incondicional. Sempre foi responsável com os estudos, desde criança. Concluiu a universidade e agora segue em busca do sonho da aprovação em um concurso, em busca da sua independência econômica”.

Realizou ainda duas Especializações em Enfermagem de Cuidados Intensivos e Enfermagem Forense, além de um mestrado em Saúde Pública, também pela UFPB. A busca por aprimoramento a levou a uma pós-graduação na Espanha, nos anos de 2001 e 2002, na qual ainda atuou como professora. Após um ano e meio de estudos no exterior, receberia um título equivalente ao de mais um Mestrado no Brasil em Investigação e Cuidados. O doutorado em Medicina e Saúde veio pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Desde a universidade, sua trajetória foi marcada pelo envolvimento nos movimentos da política estudantil. Isso se traduziu mais tarde na eleição para a diretoria do Conselho Regional de Enfermagem da Paraíba (Coren-PB) por dois mandatos, entre 2012 e 2014 e 2015 a 2017, além de eleita para o Cofen por duas gestões, de 2006 a 2008 e 2009 a 2012. “Durante a graduação em Enfermagem participei de movimentos estudantis, de diretório acadêmico. Participei de vários encontros e congressos, tudo contribuiu para minha formação acadêmica”, contou.

Já presidente do Cofen, no ato “Valorizar a Enfermagem é Valorizar o SUS”

Sua luta maior sempre foram as reivindicações mais importantes dos profissionais de Enfermagem, como o Piso Salarial e 30 horas e a Lei do Descanso, pleitos que há décadas aguardam aprovação. Ela atribui à sua dedicação a estes temas o motivo de sua escolha para a atual diretoria do Cofen. “Acredito que minha escolha foi um reconhecimento pelas contribuições que prestei ao Sistema e minha trajetória profissional”, pondera.

Sua luta em defesa da categoria foi reconhecida por um convite para debater temas da Enfermagem como as jornadas exaustivas de trabalho na Câmara dos Deputados, há sete anos. “Não podemos mais continuar a viver uma rotina de desvalorização e condições indignas de trabalho”, reitera. A defesa da qualidade da formação e da valorização profissional pautou a atuação de Betânia como conselheira do Coren-PB e do Cofen, levando-a à Presidência do Conselho Federal de Enfermagem.

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