Problemas de amamentação raramente requerem frenectomia, alerta Academia de Pediatria

"O manejo da amamentação e a própria sucção são suficientes para soltar a linguinha do bebê, na maioria das vezes", explica enfermeira Ivone Amazonas.

02.08.2024

Mães recebem orientação no Banco de Lei do Hospital Regional de Taguatinga. Manejo da amamentação deve ser tentado antes de se considerar a cirurgia (Paulo Carvalho/Agência Brasília)

A Academia Americana de Pediatria (AAP) emitiu, nesta semana, alerta contra o uso excessivo da frenectomia, remoção de cirúrgica da membrana embaixo da língua do recém nascido. A anquiloglossia, popularmente conhecida como língua presa, pode atrapalhar a amamentação, mas a indicação cirúrgica é controversa. Consenso da Academia Americana de Otorrinonaringologia e Cirurgia da Cabeça e Pescoço afirma que a língua presa não é, por si, indicação cirúrgica em neonatos. Muitos bebês com frenectomia lingual conseguem mamar normalmente. 

“É preciso observar a mamada e orientar a lactante no manejo da amamentação antes de considerar a possibilidade de uma cirurgia corretiva”, alerta a enfermeira  Ivone Amazonas, coordenadora da Câmara Técnica de Enfermagem em Saúde do Neonato e da Criança do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). O bebê precisa ser avaliado quanto ao tônus muscular e outras questões que possam estar dificultando a sucção antes de ser submetido a cirurgia.

Cada vez mais popular no Brasil e em países industrializados, a cirurgia de frenectomia virou notícia com a pequena Mavie, filha do jogador Neymar e de Bruna Biancard, submetida ao procedimento em abril deste ano. A bebê Lua, filha dos influenciadores Viih Tube e Eliézer, também foi submetida a frenectomia, em abril de 2023. O procedimento é pouco invasivo, podendo ser feito inclusive em consultórios odontológicos, mas não está isento de riscos.

A revisão Cochrane sobre a frenectomia em recém-nascidos concluiu que a cirurgia “reduziu a curto prazo a dor nos mamilos das mães que amamentam”, mas os pesquisadores não encontraram evidências consistentes de efeito positivo na amamentação. A Academia Americana de Pediatria destaca que as principais dificuldades de amamentação, incluindo dor, não estão associadas a anquiloglossia. A continuidade da amamentação está associada a aspectos culturais e ao apoio social, incluindo desde os familiares ao sistema de saúde e locais de trabalho. 

Teste da Linguinha – No Brasil,  a lei 13.002/2014 determina a realização Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês – Teste da Linguinha antes da alta hospitalar do recém-nascido. “O resultado do teste, por si só, não é indicativo de frenectomia”, alerta Ivone Amazonas. “O manejo da amamentação e a própria sucção são suficientes para soltar a linguinha do bebê, na maioria das vezes”, explica a enfermeira neonatologista.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) entrou com um pedido de revogação da lei em 2019, argumentando que o protocolo ocasiona intervenções cirúrgicas desnecessárias e pode dificultar a identificação e atendimento de casos mais graves de anquiloglossia. 

Revisão sistemática de artigos publicados entre 1947 e 2021 revela fragilidades e inconsistências nos critérios de diagnóstico, alerta a entidade. A prevalência da anquiloglossia  oscila entre 0,1% a 12% dependendo dos estudos. “É de consenso que o diagnóstico de anquiloglossia não deve ser baseado apenas na aparência anatômica, mas sim no histórico de caso completo, na avaliação funcional objetiva da função da língua a partir de um critério diagnóstico, bem como na avaliação completa dos aspectos funcionais”, afirma a SBP.

Agosto Dourado –  Os Conselhos de Enfermagem vão destacar, durante todo o Agosto Dourado, a importância do apoio ao aleitamento materno mesmo nas situações adversas. Com o tema “Onde faltam perspectivas, o leite humano nutre o futuro”, a campanha reforça os efeitos protetivos da amamentação e integra a Semana Mundial do Aleitamento Materno, da Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno (WABA).

Orientação de profissionais de Saúde deve ser disponibilizada em caso de dificuldade de amamentação. Caso as lactantes estejam separadas dos seus filhos, deve-se estimular a extração manual do seu leite de 6 a 8 vezes em 24h para a manutenção da produção de leite materno. O acolhimento e apoio psicológico pode ser benéfico para a manutenção da amamentação e cuidado durante o período mais crítico.

Confira orientações do Ministério da Saúde sobre amamentação em situações de emergência e calamidades.

Fonte: Ascom/Cofen - Clara Fagundes

Compartilhe

Outros Artigos

Receba nossas novidades! Cadastre-se.


Fale Conosco

 

Conselho Federal de Enfermagem

SCLN Qd. 304, Lote 09, Bl. E, Asa Norte, Brasília – DF

61 3329-5800 | FAX 61 3329-5801


Horário de atendimento ao público

De segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h

Contato dos Regionais