SAÚDE: ESTUDO DE ALZHEIMER ENCONTRA ELO COM OS PAIS

Filhos de pais com Alzheimer podem desenvolver problemas de memória com 50 anos de idade ou até menos - muito mais cedo do que se pensava - de acordo com um amplo estudo divulgado na quarta-feira (18/11) por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston.

20.11.2009

Filhos de pais com Alzheimer podem desenvolver problemas de memória com 50 anos de idade ou até menos – muito mais cedo do que se pensava – de acordo com um amplo estudo divulgado na quarta-feira (18/11) por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston.

Todos os participantes do estudo eram portadores um gene fortemente associado ao Alzheimer. Entretanto, os que tinham ao menos um dos pais com o diagnóstico saíram-se pior em testes de memória do que outras pessoas da mesma idade com o mesmo gene, mas cujos pais não tinham a doença. A diferença na memória entre os dois grupos foi equivalente a aproximadamente a 15 anos de envelhecimento do cérebro, segundo os pesquisadores.

“O tamanho do efeito foi surpreendente”, disse Sudha Seshadri, professora de neurologia e autora do estudo. “Era como se você estivesse comparando dois grupos, um de 55 anos e outro de 70 anos.”

Pesquisadores não envolvidos nesse trabalho disseram que os resultados têm amplas implicações porque são os primeiros a demonstrar mudanças nas capacidades cognitivas anos antes da idade na qual a doença degenerativa do cérebro é diagnosticada.

Quando a forma mais comum de Alzheimer é confirmada, em geral em torno dos 75 anos, já há danos irreparáveis em grandes seções do centro de memória do cérebro.

As descobertas da Universidade de Boston não sugerem que todos os portadores do gene, conhecido como Apoe-e4, desenvolverão Alzheimer, disse Seshadri. Acredita-se que o gene tenha um papel em cerca de 50% dos casos de Alzheimer. O estudo tampouco demonstrou se as pessoas que apresentam problemas de memória com menos idade estavam destinadas a desenvolver Alzheimer.

A memória do grupo afetado era menor, mas ainda assim estava dentro de uma faixa considerada normal, disseram os pesquisadores, e os déficits não seriam observáveis para as pessoas em geral.

“Essas pessoas não estão tendo dificuldades no trabalho”, disse Seshadri.

Pressa
Enquanto os cientistas se apressam em buscar um tratamento para o Alzheimer, as descobertas mais recentes talvez ajudem os pesquisadores a um dia apontarem quando as intervenções médicas devem ser iniciadas para deter o processo destruidor do cérebro, antes que esteja todo tomado. O Alzheimer aflige cerca de 5 milhões de americanos e não tem uma cura conhecida.

O estudo da Universidade de Boston, que incluiu 715 participantes de idades entre 37 e 80 anos, foi aceito para apresentação na reunião anual de abril da Academia Americana de Neurologia, principal organização norte-americana de especialistas em cérebro. O estudo, contudo, ainda não passou pelo processo tradicional de crítica científica, que inclui a revisão dos dados por outros pesquisadores antes de serem publicados em uma revista.

Os participantes vieram do Estudo do Coração Framingham, que acompanhou três gerações. Iniciado em 1948 para estudar riscos cardiovasculares, mais tarde foi ampliado e passou a incluir outras doenças.

Na última pesquisa sobre o Alzheimer, os participantes foram separados em dois grupos. Os dois tinham o gene Apoe-e4, mas, em um grupo, os participantes também tinham ao menos um pai com Alzheimer ou demência. Os pais dos participantes do segundo grupo não apresentavam a doença.

Os dois grupos fizeram testes visuais e verbais de memória, nos quais os participantes viam imagens complexas e ouviam histórias curtas. Vinte minutos depois, deveriam desenhar as figuras e recitar as histórias com o máximo de detalhes que pudessem se lembrar. O grupo com histórico parental de Alzheimer teve uma média de pontos significativamente menor do que aquele sem um pai com Alzheimer.

Outra pesquisa demonstrou que mudanças significativas, tais como o acúmulo de placas amilóides no cérebro, acontecem ao menos uma década antes do Alzheimer ser diagnosticado. Entretanto, a pesquisa da Universidade de Boston é a primeira demonstrar que mudanças mensuráveis na memória também podem estar acontecendo.

“Se isso for corroborado, parece que o Alzheimer começa anos antes de ser diagnosticado”, disse Randy Bateman, professor assistente de neurologia da Universidade de Washington em St. Louis. Bateman está conduzindo um estudo separado de ampla escala sobre o Alzheimer, no qual está medindo o fluido cerebral e placas em participantes de meia-idade, além de testar sua memória.

Bateman disse que se outros estudos corroborarem as conclusões da Universidade de Boston, a possibilidade de encontrar sintomas muito cedo pode dar aos médicos uma “janela de oportunidade” para tratarem os pacientes antes que o cérebro seja severamente danificado. Atualmente, há alguns medicamentos aprovados para diminuir o declínio mental do Alzheimer, mas apenas são receitados após a doença ser diagnosticada.

Existe um exame genético para detectar o gene Apoe-e4 estudado pelos pesquisadores da Universidade de Boston que é usado pelos médicos para ajudar a diagnosticar o Alzheimer em pacientes que já estão demonstrando sintomas. Os cientistas ainda estão estudando as conexões entre o Apoe-e4 e o Alzheimer – alguns acreditam que pode haver uma dúzia de outros genes ainda não identificados com um papel na doença, e ninguém recomenda que pessoas saudáveis façam esse exame.

“Eu me preocupo com a discriminação genética”, disse Rudy Tanzi, professor de neurologia da Escola de Medicina de Harvard que identificou três outros genes associados ao Alzheimer de início prematuro, uma forma mais rara doença que, em geral, se inicia antes dos 65 anos.

“Se alguém sabe que meus pais têm o Apoe-e4, talvez o meu patrão descubra e se pergunte: ‘Será que devo promover esse sujeito?'”, disse Tanzi.

As descobertas da Universidade de Boston aumentam a urgência para aprovação de leis contra a discriminação genética, acrescentou Tanzi. Ele disse que, apesar de haver uma lei federal americana-o Ato de Não Discriminação por Informação Genética, do ano passado- que protege contra a discriminação no emprego, ele se preocupa com a discriminação sutil no ambiente de trabalho.

“Não tenho certeza de que seria sábio ter informações genéticas sobre sua função cognitiva se você não tem a doença”, disse Tanzi. “As pessoas arriscam ser discriminadas por algo que não podem evitar.”

Fonte: The Boston Globe

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