Saúde Mental e Estigma: Enfermagem Solidária comenta o tema do Enem

Enfermeiros especialistas que integraram a iniciativa "Enfermagem Solidária" refletem sobre o estigma associado ao adoecimento mental

18.01.2021

Estigma – REFLEXÕES DA ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL

 

Com alguma satisfação, vimos hoje que o tema da prova de redação do ENEM abordar ao estigma, presente nas pessoas portadoras de transtornos mentais. Sobre isto, em que pesem nomenclaturas sempre sendo revistas junto às propostas psicopatológicas, sabemos que a loucura provoca reações de estranhamento e perturba os valores e mecanismos preestabelecidos socialmente, criando movimentos de exclusão que foram reproduzidos intergeracionalmente e a desconsideração da pessoa como um sujeito de pensamento.

Nesse sentido, sem enquadres psicopatológicos, mas, numa perspectiva ética, vemos que ainda hoje, o pensar, o sentir e o relacionar-se com o mundo diferente dos padrões postos ainda é um grande um desafio. A relevância do tema, a nosso ver traz o sofrimento emocional e mental revelando e sendo cada vez mais presente na pandemia de covid-19 e pós covid.

O tema é relevante, em primeiro lugar, porque o estigma, além do preconceito, é um obstáculo à implementação de políticas de saúde mental. Produz um afastamento, que prejudica a vinculação às pessoas.

Ela causa um sentimento exclusão, de desconhecimento, de desconfiança. Isso tudo é muito ruim para quem já está vulnerável do ponto de vista emocional.

Aos poucos essas campanhas mundiais vêm sendo feitas para trazer a saúde mental à discussão cotidiana, para amplificar o entendimento de como podemos lidar com sentimentos, emoções e comportamentos ante as pessoas que apresenta algum transtorno mental. Os movimentos em direção ao acolhimento das pessoas portadoras de transtorno mental nunca foram tão importantes quanto nesse momento de isolamento perdas e insegurança.

No momento em que estamos vivendo, com a pandemia, temos visto cada vez mais sofrimento, pela ausência dos rituais de despedida, pelos lutos não acomodados, pela perda permanente e repetida de sonhos e projetos pessoais; pelo medo de contaminar a si e aos outros.

Sofrimento emocional e transtornos mentais já instalados se agravam, à medida em que outros surgem. É sem dúvida, uma ótima oportunidade para se discutir o processo saúde/doença mental junto aos jovens e toda sociedade, através de um acontecimento tão importante como o ENEM.

A Enfermagem brasileira por meio das ações orquestradas pelo COFEN vem se destacando como primeira categoria da saúde na abertura dos canais de atendimento, com o Projeto Enfermagem Solidária, que contou com 120 colaboradores Enfermeiros de Saúde mental, que voluntariamente se dedicaram à escuta qualificada dos profissionais que estão na linha de frente da luta contra a covid-19, em ações objetivas e transformadoras de acolhimento e orientações, nas 24h/dia/todos dias da semana.

Desde o século passado nunca se viu algo com proporções tão dramáticas como a pandemia atual e, por inferir que ninguém sairá ileso após todos estes meses de sofrimento e dor, a Enfermagem segue acolhendo, cuidando, pesquisando, propondo discussões.

De certo que todos e todas que compõem os quadros da Enfermagem sabem que a dor e o cuidado são um binômio. E que, por conseguinte, ao lidar com a dor do outro, há que se sentir alguma dor também.

Por fim, a importância da atual política de saúde mental está em jogo: Há um risco já em movimento de voltarmos para as internações manicomiais, baseado na internação, no silenciamento das diagnosticas com transtornos mentais, apagando pouco a pouco a nossa tão lutada reforma psiquiátrica que tazia no seu escopo contornar o estigma as pessoas com transtorno mental.

 

Enfermagem Solidária

Dorisdaia Humerez

Coordenadora do Comissão Nacional de Enfermagem e Saúde Mental do Cofen e do Programa Enfermagem Solidária, que atendeu profissionais de Enfermagem de março a setembro de 2020. Doutora em Enfermagem e Saúde pela USP e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Wilma Suely Batista Pereira

Doutora em Ciências: desenvolvimento socioambiental; professora titular da Universidade Federal de Rondônia -UNIR; Lider do Observatório de Violência, Saúde e Trabalho – OBSAT/UNIR

Lucielena Garcia.

Especialista em Enfermagem em Saúde Mental. Colaboradora Coren MG.

 Juliana Nazaré Bessa-Andrade.

Especialista em Saúde Mental. Mestranda em Enfermagem pela UFJF.

Carolina Simão

Especialista em Saúde da Família e Gerenciamento de Unidades Básicas de Saúde, Mestre em Ciências da Saúde – USP, Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Enfermagem em Adições e Saúde Mental (NEPEASM), atualmente assessora da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo e Preceptora de Saúde Coletiva, na Universidade Faculdade das Américas (FAM)

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