Um dia na vida de uma enfermeira de cuidados paliativos

O periódico Daily Nurse entrevistou profissional norte-americana para conhecer sua rotina

06.05.2024

Maryette Williamson

Aprimorar a qualidade da vida e da morte – minimizando as dores e proporcionando conforto ao paciente – é o objetivo do profissional de cuidados paliativos. Cuidar de uma pessoa com um diagnóstico terminal pode ser difícil, mas é q rotina de uma enfermeira desta especialidade.

O periódico americano Daily Nurse acompanhou o dia a dia de Maryette Williamson, que atua na cidade de Fayetteville, na Carolina do Norte. A seguir confira seus relatos:

Como veio o interesse pela Saúde em cuidados paliativos? O que levou a esta escolha e há quanto tempo atua?

Eu tive uma primeira experiência em cuidados paliativos na graduação em Enfermagem e adorei. Logo depois de me formar, minha mãe faleceu, depois foi minha irmã e então meu pai. Eu tentava elaborar meu luto naquela época. Tanto meu pai como minha irmã receberam os cuidados paliativos. Foi decisivo porque achei uma experiência tão bonita. Foi o melhor que poderia acontecer naquela situação, percebi que queria fazer isso por outras pessoas. Estou neste trabalho há um ano e nove meses.

Explique brevemente o que faz como enfermeira de cuidados paliativos. Que tipo de paciente atende? Que idade eles têm e como eles entram no programa? O que proporciona para eles?

Tenho diversos pacientes na clínica, mas também atendo em suas residências. Trabalhando a partir do que os pacientes e suas famílias já sabem, tento ensinar o que se deve esperar do fim próximo da morte.

Meu cuidado é direcionado aos sintomas e a prevenir complicações, tais como o posicionamento do paciente, cuidados com a pele, respiração e apoio na hidratação. Também posso identificar e tratar as infecções. Proporciono cuidado e conforto tanto no aspecto físico como no emocional —tudo, desde solicitar uma cadeira-de-rodas, ajudar na locomoção e até segurar um telefone próximo ao ouvido de um paciente prestes a morrer para ouvir um ente querido dizer “eu te amo”.

Se tenho um paciente relativamente estável, que não teve muita evolução, converso com ele. Recalibro suas medicações e garanto que esteja tomando tudo de acordo com o prescrito. Em seguida, checo os seus sinais vitais, o examino dos pés à cabeça e pergunto se tem alguma pergunta. Planilho as visitas, depois passo para a próxima. Visito cerca de cinco pacientes por dia.

Eu já tive um paciente que estava com 57 anos, tive um que estava com 106 anos. O cuidado paliativo pode ser administrado em uma ampla gama de pessoas—as mais jovens tipicamente sofrem de câncer.

O critério para que se receba cuidados paliativos é receber de um médico uma expectativa de vida de seis meses ou menos. As diretrizes da minha região consideram aplicáveis os cuidados paliativos para diversos processos patológicos, limitações funcionais e comorbidades. Temos períodos específicos de recertificação, então a cada seis meses um médico deve prescrever os cuidados paliativos para que o paciente receba este conforto até o final da vida.

Você precisou realizar uma pós-graduação para se tornar enfermeira de cuidados paliativos?

Não, trabalhei com atenção básica na maior parte da minha carreira. Conheci muitos processos patológicos que as pessoas enfrentam no fim da vida. Nos cuidados de longo prazo proporcionei cuidados para pacientes terminais, mesmo para aqueles que não estavam necessariamente em cuidado paliativo.

No entanto, houve uma curva de aprendizado da atenção de longo prazo para os cuidados paliativos. A diferença mais significativa no cuidado paliativo é a atenção à qualidade de vida ao invés da cura. Foi a coisa mais diferente para mim. Mesmo na clínica, as pessoas tentam encontrar formas de tratar uma doença progressiva. Mas, quando um paciente escolhe o cuidado paliativo, priorizamos seu conforto. Tratamos qualquer coisa que melhore sua qualidade de vida, mas não tentamos curar a doença que limita seu tempo de vida.

O que gosta mais do seu trabalho?

Gosto porque posso ficar com a família inteira. É como se você se tornasse um familiar também. Eles confiam em você e você os conforta com a sua presença. É gratificante ensinar uma família a saber o que esperar e como ajudar, para que não tenha medo e possam aproveitar ao máximo o tempo junto de quem amam.

Quais são seus maiores desafios?

Tenho uma equipe muito boa, mas, no final das contas, acabo sozinha. Não tem ninguém ao meu lado para intervir. Você não pode falhar, então o maior desafio é ter autonomia. Sou grata pela experiência e pelas habilidades clínicas que aprendi em cuidados de longo prazo porque elas me deixaram mais confiante na Enfermagem de cuidados paliativos.

O que é mais recompensador no seu trabalho?

Quando a família me quer presente e confia em mim, dizendo “não conseguiríamos sem você”. Eu quero ser esta presença apaziguadora e prover o conhecimento para que possam estar presentes no falecimento de quem amam. Essa é a melhor recompensa.

A morte é parte da vida. Todos vamos morrer. Não acho que seja deprimente quando posso estar presente para que esta experiência possa ser a mais positiva possível. Não se pode deixar que a ideia do cuidado paliativo amedronte e impeça de se envolver nesta atividade. Há quem pense que é só desgraça e tristeza, mas é muito mais do que isso. Se você decide investir na Enfermagem de cuidados paliativos não pense que aprenderá tudo em um mês. Ainda estou aprendendo. É um tipo diferente de Enfermagem e há muito espaço para desenvolver suas habilidades e experiência. Capacitação e aprimorar a confiança leva tempo.

 

Cuidados paliativos no Brasil –  Os cuidados paliativos previnem e aliviam o sofrimento, através da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicossociais ou espirituais. “As ações do enfermeiro vão muito além do plano de cuidados. Abrangem todos os aspectos da vida do paciente, em conjunto com a equipe multiprofissional”, afirma Carmem Lupi (CTAS/Cofen). “Não é sobre a espera da morte, mas sobre aproveitar o melhor da vida, qualquer que seja sua duração”, explica.

No Brasil, a Resolução 729 aprova a Política Nacional de Cuidados Paliativos no âmbito do SUS. O atendimento tem como objetivo principal promover a qualidade de vida dos pacientes, considerando seus valores e sua história. No âmbito do Cofen, especialistas da Câmara Técnica de Atenção à Saúde (CTAS/Cofen) e da Comissão de Práticas Integrativas e Complementares (CPICs/Cofen) estão trabalhando na proposta de futuro marco normativo.

Fonte: Daily Nurse e Ascom/Cofen

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