Comunicação pública é vacina contra negacionismo científico, afirma pesquisa

Seminário Lições da Pandemia para a Comunicação das Epidemias reuniu pesquisadores e representantes de órgãos públicos

26.04.2024

A politização dos temas da saúde e a recusa de fornecer informações públicas são estratégias utilizadas por agentes políticos para promover negacionismo científico durante a pandemia de Covid 19. O tema foi abordado no seminário Lições da Pandemia para a Comunicação das Epidemias, que reuniu pesquisadores e representantes de órgãos públicos. No encontro on-line também foram destacadas a aplicação de novos concursos públicos como forma de fortalecer o serviço e o desafio de agilizar a função de assessorias. 

Segundo o diagnóstico do projeto Pancopop, que realiza estudos acerca da influência do populismo nos serviços de comunicação em contexto de crise sanitária, as violações à liberdade de imprensa foram intensificadas durante a pandemia. Mesmo diante da disseminação de boatos e falsas afirmações a respeito de vacinas e transmissão de vírus, nenhum país aplicou uma medida expressiva para combater a desinformação.

Para a coordenadora do Pancopop, Sabina Mihelj, líderes populistas dificultaram o acesso à informações de interesse público durante a crise. No Brasil e nos Estados Unidos houve uma negação quanto à gravidade da ameaça. Na Polônia e Sérvia, as orientações de especialistas em saúde foram desdenhadas quando eram politicamente inconvenientes. “Nos quatro países também foi notada uma politização da saúde pública em diferentes formas. Com ataques a especialistas científicos ou pela instrumentalização da ciência para fins políticos. Essas ações contribuíram para a polarização de opiniões e minaram a capacidade de solucionar problemas coletivos”, explica Sabina.

Crença na desinformação — Dentre os fatores que se relacionam com a maior probabilidade de acreditar em informações falsas, o estudo destaca que o eleitorado de políticos populistas possui mais crenças equivocadas. Além disso, desconfiar de especialistas e se ater a novidades recebidas em aplicativos de mensagem, como WhatsApp e Telegram, também são indicativos de crença em desinformação.

Milena Silva, responsável pelo núcleo técnico de comunicação e vigilância da saúde da prefeitura de Campinas (SP), avalia que só é possível realizar um trabalho de comunicação integral e eficiente a partir da elaboração de políticas que possibilitem o serviço. Uma vez que o trabalho de assessorias é silenciado ao ferir interesses de governantes.

“Em muitos casos, essa função é porta-voz de coisas que nem todo mundo quer ouvir, porque também anunciamos responsabilidades que são do governo e que, muitas vezes, não são uma prioridade, ou não estão preparadas para serem feitas, ou vão ter alguns impactos em projetos políticos, sociais e econômicos”, critica.

O professor titular da Universidade Federal do Espírito Santos (UFES), Edgard Rebouças, salienta que o combate à falsa informação é feita a partir de notícias de qualidade. “A comunicação pública fortalecida, com controle social e com participação da sociedade, bem distante do que possa ser uma comunicação estatal ou de de governo, mas sim uma comunicação social, do público, é uma grande vacina também contra a desinformação”, ele expõe.

Difundir fake news é infração ética – O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) participa, desde 2020, de campanhas contra a difusão de notícias falsas na Saúde. Mitos e informações falsas sobre a covid-19 motivaram ataques a profissionais durante a pandemia, além de incentivar a hesitação vacinal. Enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem podem responder processos éticos em caso de difusão de fake news. As eleições do Sistema Cofen/Conselhos Regionais contaram com serviço de checagem de fatos e combate à desinformação.

 

Fonte: Ascom/Cofen

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